sexta-feira, 20 de junho de 2014

AOS 86 ANOS, D. PEDRO CASALDÁLIGA AINDA ENFRENTA 'LOBOS' E FALA DE ESPERANÇA 20 DE JUNHO DE 2014

Por Sônia Oddi e Celso Maldos
Da Rede Brasil Atual


São Félix do Araguaia, nordeste mato-grossense, 10 de maio de 2014. Numa pequena capela, no fundo do quintal, uma oração inaugura o dia na casa do bispo emérito de São Félix, dom Pedro Casaldáliga. A simplicidade da arquitetura ganha força com o significado dos objetos ali dispostos.

No altar, uma toalha com grafismos indígenas. Na parede, um relevo do mapa da África Crucificada, um Cristo rústico no crucifixo, uma cerâmica de mãe que protege seu filho com um braço e carrega um pote no outro. No chão de cimento, bancos feitos de toras de madeira, que lembram aqueles de buriti, usados pelos Xavante, em uma competição tradicional, em que duas equipes se enfrentam numa corrida de revezamento, carregando as toras nos ombros, demonstração de resistência e força, qualidades de um povo conhecido por suas habilidades guerreiras. Cercada de plantas, a luz entra por todas as faces das tímidas e incompletas paredes. Nesse ambiente orgânico, assim como tem sido a vida de Pedro, os amigos se aninham para tomar parte da oração.

José Maria Concepción, companheiro de Pedro de longa data, e recém-chegado da Espanha, inicia a leitura: “1795: José Leonardo Chirino, mestiço, lidera a insurreição de Coro, Venezuela, com índios e negros lutando pela liberdade dos escravos e a eliminação de impostos. 1985: Irne García e Gustavo Chamorro, mártires da justiça. Guanabanal, Colômbia. 1986: Josimo Morais Tavares, padre, assassinado pelo latifúndio. Imperatriz, Maranhão, Brasil”

Os martírios lembrados referem-se àquela data, 10 de maio. Inúmeros outros, centenas deles, são e serão lembrados ao longo de todo o ano, de acordo com a Agenda Latino-Americana. E continua: “2013: Ríos Montt, ex-ditador guatemalteco, condenado a 80 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade. A Comissão da Verdade calcula que ele cometeu 800 assassinatos por mês, nos 17 meses em que governou, depois de um golpe de Estado.”

O jovem padre Felipe Cruz, agostiniano, de origem pernambucana, conduz um canto, a reza do pai-nosso e a leitura de uma passagem da edição pastoral da Bíblia. O encerramento se dá com a Oração da Irmandade dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, escrita por dom Pedro, onde na última linha pode-se ler “Amém, Axé, Awere, Aleluia!”, em respeito à diversidade de crenças do povo brasileiro.

Em nome desse respeito, dom Pedro nunca celebrou uma missa na Terra Indígena Marãiwatsédé, dos Xavante, comunidade que desde sempre contou com o seu apoio na luta pela retomada da terra, de onde haviam sido deportados em 1968 e para onde começaram a retornar em 2004. “Se o bispo está aqui celebrando a missa, significa que nós estamos em pleno direito aqui. E, por orientação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e da igreja da Prelazia, ele, pessoalmente, não fez nenhuma celebração na reserva”, testemunha José Maria.

Sagrado bispo pelas mãos de dom Tomás Balduíno, dom Pedro dedicou a vida ao povo da região do Araguaia (Foto:Centro Comunitário Tia Irene)

Por apoiar a luta quase cinquentenária dos povos originários daquela região de Mato Grosso, Pedro foi ameaçado de morte algumas vezes. Na última, no final de 2012, quando o processo de desintrusão (medida legal para efetivar a posse) dos fazendeiros e posseiros da TI (terra indígena) Marãiwatsédé avançava e se efetivava, decorrente da determinação da Justiça e do governo federal, ele teve de se ausentar de São Félix.

Perseguições, ameaças de morte e processos de expulsão do país têm marcado a trajetória de Pedro, que chegou à longínqua região do Araguaia, como missionário claretiano, em 1968, aos 40 anos. De origem catalã, ele nasceu em 1928 – e aos 8 anos teve sua primeira experiência com o martírio, quando um irmão de sua mãe, padre, foi assassinado quando a Espanha estava mergulhada em uma sangrenta guerra civil.

A Prelazia de São Félix, uma divisão geográfica da Igreja Católica, foi criada em 1969 e abrange 15 municípios: Santa Cruz do Xingu, São José do Xingu, Vila Rica, Santa Terezinha, Luciara, Novo Santo Antônio, Bom Jesus do Araguaia, Confresa, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte, Serra Nova Dourada, Alto Boa Vista, Ribeirão Cascalheira, Querência e São Félix do Araguaia. Atualmente, conta com uma população estimada em 135 mil habitantes, uma área aproximada de 102 mil quilômetros quadrados e 22 chamadas paróquias.

Pedro, em meio às distâncias, encontrou um povo carente, sofrido, abandonado, à mercê das ameaças dos grandes proprietários criadores de gado. Os pobres do Evangelho, a quem havia escolhido dedicar a sua vida, estavam ali.

Em 1971, pelas mãos de dom Tomás Balduíno (que morreu em maio último, aos 91 anos) foi sagrado bispo da prelazia. A partir de 2005, quando renunciou, recebeu o título de bispo emérito.

Um dos fundadores da Teologia da Libertação, o seu engajamento nas lutas dos ribeirinhos, indígenas e camponeses incomodou os latifundiários e a ditadura. Ainda hoje, incomoda os homens ricos e poderosos do Centro-Oeste brasileiro.

A política dos incentivos fiscais, levada a cabo pelos militares, por meio da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), foi o berço do agronegócio.
E também dos conflitos advindos da expropriação da terra das populações originárias, da exploração da mão de obra, do trabalho escravo e toda sorte de violências, que indignou o missionário Pedro e o fez escolher do lado de quem estaria.

“O direito dos povos indígenas são interesses que contestam a política oficial”, diz dom Pedro. “São culturas contrárias ao capitalismo neoliberal e às exigências das empresas de mineração,  das madeireiras. Os povos indígenas reivindicam uma atuação respeitosa e ecológica.”

Em plena ditadura, nos anos 1970, fundou, junto com dom Tomás Balduíno, o Cimi e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), como resposta à grave situação dos trabalhadores rurais, indígenas, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia.
Ainda nesse período, em 1976, presenciou o assassinato do padre João Bosco Burnier, baleado na nuca quando ambos defendiam duas mulheres que eram torturadas em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira (MT).

Pedro faz seções de fisioterapia algumas vezes na semana. Aos 86 anos, e com o Parkinson diagnosticado há cerca de 30, esse cuidado se faz necessário para minimizar os avanços do mal que provoca atrofia muscular e tremores. Ele segue disciplinadamente uma dieta alimentar, o que de certa maneira retardou, mas não cessou, segundo seu médico, o avanço da doença.

A disciplina se repete na leitura diária de e-mails, notícias, artigos, acompanhado mais frequentemente por frei Paulo, agostiniano,  que assim como dom Pedro tem sempre as portas abertas para moradores da comunidade e viajantes. Durante a visita da Revista do Brasil, por exemplo, há uma pausa para acolher Raimundo, homem alto, pardo, magro que, aflito, emocionado, de joelhos, pedia a sua bênção.

A casa é simples, de tijolos aparentes, sem acabamento nas paredes. Porém, tal como a capela no fundo do quintal, é plena de significados e ícones que atestam o compromisso com as causas humanas, de quem vive sob aquele teto.
Che, Jesus, Milton

No quarto, na salinha, na cozinha, no alpendre dos fundos, no escritório, um devaneio para os olhos e para o coração. Imagens de significados diversos: Che Guevara, Jesus Cristo, Milton Nascimento, padre João Bosco Burnier, dom Hélder Câmara, monsenhor Romero, Pablo Neruda. Textos de Martín Fierro, São Francisco de Assis, Joan Maragall, Exodus. Pôsteres da Missa dos Quilombos, da Romaria dos Mártires da Caminhada, da Semana da Terra Padre Josimo. Calendários da Guerra de Canudos, de operários no 1º de Maio. E ainda fotos, pequenas lembranças e artefatos populares, em meio a estatuetas de prêmios recebidos.

O seu compromisso com as causas populares extrapola as fronteiras do país. Em 1994, dom Pedro apoiou a revolta de Chiapas, no México, afirmando que quando o povo pega em armas deve ser respeitado e compreendido.
Em 1999, publicou a Declaração de Amor à Revolução Total de Cuba. Fala com convicção da importância da unidade latino-americana, idealizada por Simon Bolívar (1783-1830) e defendida pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez (1954-2013).

“Eu dizia que o Brasil era pouco latino-americano, a língua comum dos povos castelhanos fez com que o Brasil se sentisse um pouco à parte do resto”, diz dom Pedro. “Por outro lado, o Brasil tem umas condições de hegemonia que provocava nos outros povos uma atitude de desconfiança. Hugo Chávez fez uma proposta otimista, militante, apelando para o espírito de Bolívar, com isso se conseguiu vitórias interessantes, como impedir a vitória da Alca.”

Ele recorda de um encontro com o ex-presidente brasileiro. “Quando Lula esteve na assembleia da CNBB, estávamos nos despedindo, ele se aproximou de mim e me deu um abraço. E eu falei, vou te pedir três coisas. Primeiro, que não nos deixe cair na Alca, segunda, que não nos deixe cair na Alca, terceira, que não nos deixe cair na Alca. Só te peço isso”, conta, em referência a Área de Livre Comércio das Américas, ícone do neoliberalismo.

“E realmente não entramos na Alca. Porque a América Latina tem de se salvar continentalmente, temos histórias comuns, os mesmos povos, as mesmas lutas, os mesmos carrascos. Os mesmos impérios sujeitando-nos, uma tradição de oligarquias vendidas. Tem sido sempre assim. Começavam com o império, o que submetia as oligarquias locais. Os exércitos e as forças de segurança garantiam uma segurança interesseira. Melhorou, inclusive os Estados Unidos não têm hoje o poder que tinham com respeito ao controle da América Latina. Somos menos americanos, para ser mais americanos.”

Esperança e diálogo


É preciso de todo jeito salvar a esperança, defende dom Pedro. “Insistir nas lutas locais, frente à globalização. Se somar as reivindicações, sentir como próprios, as lutas que estão acontecendo nos vários países da América Latina. El Salvador, Uruguai, Bolívia, Equador... Claramente são países muito próximos nas lutas sociais.”

Há tempos dom Pedro Casaldáliga não concede entrevistas pela dificuldade que tem encontrado em conciliar a agilidade do raciocínio com o tempo possível da articulação das palavras. A ajuda de José Maria, seu amigo e conterrâneo, foi fundamental para a compreensão das pausadas e esforçadas falas, enquanto discorria sobre assuntos por ele escolhidos.

Otimista  com a atuação do papa Francisco, ressalta que “ele fez gestos emblemáticos, muito significativos”. “A Teologia da Libertação se sentiu respaldada por ele. Tem valorizado as Comunidades Eclesiais de Base, com o objetivo de uma Igreja pobre para os pobres. Estimulou o diálogo com outras igrejas... Chama a atenção nele o diálogo com o mundo muçulmano e com o mundo judeu, e agora essa visita a Israel... Muito significativa. Desmantelou todo o aparato eclesiástico, seus colaboradores tiveram de se adaptar.”

Ele reconhece as limitações que o sistema político impõe à atuação do governo, que segundo dom Pedro tem “um pecado original”: as alianças. “Quando há alianças, há concessões e claudicações. Enquanto esses governos todos se submeterem ao capitalismo neoliberal teremos essas falhas graves. A política será sempre uma política condicionada. Tanto o Lula como a Dilma gostariam de governar a serviço do povo mesmo, mas as alianças fizeram com que os governos populares estivessem sempre condicionados”. Para ele, deve haver uma “atitude firme, quase revolucionária”, em relação a temas como saúde, educação e comunicação.

Morto em março do ano passado, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez é lembrado com determinação pelo religioso. “Ele tentou romper, rompeu o esquema. Por isso, a direita faz questão de queimar, queimar mesmo, a Venezuela. Nos diários e noticiários, a cada dia tem de aparecer alguma coisa negativa da Venezuela”.
Direitos indígenas x ruralistas

Ele aponta a “atualidade” da causa indígena, e as ameaças que não cessam. “Nunca como agora, se tem atacado tanto. Tem várias propostas para transformar a política que seria oficial, pela Constituição de 1988, que reconhece o direito dos povos indígenas de um modo muito explícito. Começam a surgir propostas para que seja o Congresso quem defina as demarcações das terras indígenas, sendo assim já sabemos como será a definição. A bancada ruralista é muito grande...”, observa dom Pedro.

Por outro lado, prossegue, nunca os povos indígenas se organizaram como agora. E o país criou uma “espécie de consciência” em relação a essa causa. “Se querem impedir que haja uma estrutura oficial com respeito à política indígena, tentam suprimir  organismos que estão a serviço dessas causas. Isso afeta os povos indígenas e o mundo rural.
Tudo isso é afetado pelo agronegócio, o agronegócio é o que manda. E manda globalmente. Não é só um problema do Mato Grosso, é um problema do país e do mundo todo. As multinacionais condicionam e impõem.

“A retomada da TI Marãiwatsédé é bonita e emblemática. Os Xavante foram constantes em defender os seus direitos. Quando foram expulsos, deportados – esta é a palavra, eles foram deportados –, seguiram vinculados a esse terreno, vinham todos os anos recolher pati, uma palmeira para fazer os enfeites. E reivindicavam sempre a terra onde estão enterrados nossos velhos.
E foram sempre presentes”, testemunha. “Aqui, nós sempre recordamos que essa terra é dos Xavante, que esta terra é dos Xavante. Os moradores jovens, meninos, outro dia diziam – nossos vovôs contam que essa terra é dos índios, nossos papais contam que essa terra é dos índios.”

A essa altura, dom Pedro lembra de “momentos difíceis” em que o Cimi se vê obrigado a contestar certas ações do governo.
“Quando se diz que não há vontade política pelas causas indígenas, eu digo que há uma vontade contrária ao direito dos povos indígenas, isso é sistemático. A Dilma, eu não sei se se sentisse um pouco mais livre, respaldaria as causas indígenas. Alguns pensam que ela pessoalmente não sintoniza com a causa indígena. Tem sido criticada porque nunca recebeu os índios".
"Faz pouco foi o primeiro encontro com um grupo. Todos esses projetos de Belo Monte, as hidrelétricas. Se ela tem uma política desenvolvimentista, ela tem de desrespeitar o que a causa indígena exige: em primeiro lugar seria terra, território, demarcação, desintrusar os invasores. Seria também estimular as culturas indígenas e quilombolas”, diz, sem meio-termo. “Se você está a favor dos índios, você está contra o sistema. Não adianta colocar panos quentes aí.”

Dom Pedro defende a presença de sindicatos, mas critica o movimento. “Eles são a voz dessas reivindicações todas dos povos indígenas, do mundo operário. Na América Latina, estiveram muito bem os sindicatos, ultimamente vêm falhando bastante. Foram cooptados. Quando se vê um líder sindicalista transformado em deputado, senador, ele se despede”, afirma, vendo a Via Campesina como uma alternativa, por meio de alianças de grupos populares em vários países.

“Daí voltamos à memória de Hugo Chávez, que estimulou essa participação”, observa. “De ordinário acontece que antes as únicas vozes que os operários tinham eram o sindicato e o partido.
Nos últimos anos, tanto o partido como o sindicato perderam representatividade. Em parte foram substituídos por associações, alguns movimentos. Mas continuam sendo válidos. Os sindicatos e partidos são instrumentos conaturais a essas causas do povo operário, camponês.”

Para fazer campanha eleitoral, todo candidato operário a deputado, senador, tem de “claudicar” em algum aspecto, acredita dom Pedro.  “Por isso, é melhor que não se candidate.
Por outra parte, não se pode negar completamente a função dos partidos e dos sindicatos. Não é realista, ainda continuam sendo espaços que se deve preencher.”

Lúcido, Pedro conclui a conversa lembrando a frase de um soldado que lutava contra a ditadura franquista na Guerra Civil Espanhola: “Somos soldados derrotados de uma causa invencível”.

Descalço sobre a terra vermelha

A minissérie em dois capítulos de uma hora Descalço sobre a Terra Vermelha, baseada em livro homônimo do jornalista catalão Francesc (Paco) Escribano, é uma produção da TVE (Educativa da Espanha),  da TV3 da Catalunha, da produtora Minoria Absoluta, da TV Brasil e da produtora paulista Raiz Produções Cinematográficas. Descalço sobre a Terra Vermelha estreou na TV3 em março e está programada para ser exibida na TV Brasil no segundo semestre.

Trata da vida de dom Pedro Casaldáliga, desde sua chegada ao Brasil até sua visita ad Limina ao Vaticano, quando se apresentou ao Papa João Paulo II e ao conservador cardeal Joseph Ratzinger, então à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira da Santa Inquisição, onde deveria explicar sua ação teológica a favor dos pobres e dos oprimidos.

O filme, uma belíssima e apurada produção, contou com a participação de mais de mil figurantes de povoados e das cidades de Luciara e São Félix do Araguaia, locais onde foram construídas verdadeiras cidades cenográficas, representando como eram esses lugares nos idos dos anos 1970.

Dirigido por Oriol Ferrer, tendo Eduard Fernández, premiado ator catalão, no papel de Casaldáliga, contou com um elenco de ótimos atores espanhóis e brasileiros.
Rodado como uma espécie de western teológico, retrata com grande força e sensibilidade a violência e tensão existentes, ainda  hoje, nos conflitos entre latifundiários, invasores de terras indígenas, posseiros e a ação pastoral da Prelazia de São Félix que, tendo dom Pedro à frente, desde sempre esteve ao lado dos despossuídos.

De acordo com a descrição que aparece no site da Minorita Absoluta, a série combina ação e misticismo “no cenário exuberante de Mato Grosso, em contraste com a paisagem humana e social chocante”.
A história de Pedro Casaldáliga se desenvolve “em torno de valores universais”, no contexto da teoria filosófica e teológica da libertação e da situação geopolítica dos anos 1970, na ditadura brasileira.
O jornalista e produtor executivo Francesc Escribano salienta que a produção se tornou “seu coração” para contar “uma história notável de um catalão universal”.

Durante o making of, impressionou como a historia e principalmente  o próprio dom Pedro teve impacto na vida de todos os envolvidos na produção.
Confirma a impressão que tive desde a primeira vez que viajei com ele, há mais de 30 anos: estar na sua presença é sentir-se na presença de um espirito muito elevado; sem exagero, um verdadeiro santo do povo.

RESULTADO DE ESTUDO DE PERDAS E DANOS É APRESENTADO NA VILA MUIRAPINIMA, REGIÃO DE JURUTI VELHO

Aconteceu na quarta-feira, 18, na sede social do Boca Junior, Vila Muirapinima, a discussão e encaminhamentos dos resultados do Estudo de Perdas e Danos – EPD realizado pela Ecoideia.
O encontro contou com a presença dos presidentes de comunidades, coordenadores das áreas pastorais, conselheiros fiscais comunitários, direção e assessoria da ACORJUVE – Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho.
A assessoria do estudo foi do professor Everaldo Portela, que na abertura do encontro fez uma análise de conjuntura social e cultural, ressaltando que “o povo tem perdido sua tradicionalidade, o estilo de vida que tínhamos. Há uma tendência muito forte que em vez de repartir o pouco que tínhamos a gente separa hoje pra vender. O mercantilismo e o capitalismo estão penetrando em nossas vidas e estão agindo contra o nosso patrimônio cultural tradicional”. Everaldo Portela ressaltou ainda que é preciso ter muito cuidado pra resistir, pra lutar, “sempre sabendo que temos que fazer nossa parte”.
Foi apresentado os resultados das externalidades em estudos e após a apresentação foi aberto a contribuições e encaminhamentos.
As propostas de encaminhamentos de encaminhamentos no final do estudo foram de fazer estudo parecido a cada cinco anos para verificar as mudanças ocorridas ao longo do período e tomar as providências necessárias.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

ACORJUVE: UNIDADE, LUTA, VITÓRIAS E DESAFIOS

A Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE) representa uma unidade de ação dos moradores e moradoras tradicionais da Região de Juruti Velho, zona rural do Município de Juruti, oeste do Pará, cujo território é integrado por 51 comunidades, todas localizadas no entorno do Lago de Juruti Grande.

A ACORJUVE é fruto da angústia e esperança das famílias tradicionais da região de Juruti Velho. Angústia, porque, vivendo há décadas em suas terras, conviviam com a insegurança de não possuírem o documento dessa terra, que também pertenceu a seus ancestrais Mundurukus, situação que os tornava tão apenas observadores de empresários, madeireiros e grileiros que levavam embora suas riquezas, fomentando mais pobreza na população. Esperança, pois sempre acreditaram que suas vidas jamais poderiam ser separadas das riquezas naturais existentes naquele território que sempre souberam preservar, pois que há cumplicidade em suas existências; fé e clareza foram os ingredientes, a base que estimularam a luta para o nascimento da ACORJUVE.

A ACORJUVE foi fundada em 21 de março de 2004, como uma associação civil, de direito privado, sem fins econômicos, constituída pela união e solidariedade dos moradores tradicionais e permanentes das Comunidades da Região de Juruti Velho, numa assembléia que reuniu quase 2.000 pessoas. A ACORJUVE, em seu estatuto, considera permanente, o morador que há mais de 05 (cinco) anos tem a posse da terra, e nela trabalha em regime de produção familiar em qualquer ramo de atividade, tais como, agropecuária, extrativista, de artesanato, com exploração direta e contínua. Sua fundação representa o fecho de uma etapa de discussões sobre a melhor e mais adequada forma de lutar pelos direitos, e o início de outra etapa que tem como base a organização coletiva de todos os moradores tradicionais que habitam as 48 comunidades da conhecida região de Juruti Velho, pois que já existiam várias associações em diversas comunidades, mas representavam os interesses dos moradores daquela comunidade específica. Com a criação da ACORJUVE, a unidade se fortaleceu, ampliando a participação, entretanto sempre permanecendo a consideração às associações já criadas e as que, porventura, venham a se constituir, com quem a ACORJUVE sempre manterá convivência respeitosa e de ajuda mútua.

A ACORJUVE é uma associação democrática, livre, sem interferência externa, não fazendo distinção de qualquer natureza entre seus associados. Atualmente, representa junto ao INCRA e a outros órgãos as famílias beneficiárias do Projeto de Assentamento Agroextrativista – PAE JURUTI VELHO –, todas moradoras em comunidades localizadas na Região de Juruti Velho, Gleba Juruti Velho, sendo a responsável em zelar pelo cumprimento dos termos do Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CDRU) gratuita e resolúvel, de caráter perpétuo, que a UNIÃO, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), celebrou com a ACORJUVE, em 30 de agosto de 2009.

A ACORJUVE tem como objetivo permanente: administrar, guardar, zelar, fiscalizar e controlar as terras ocupadas pelas comunidades tradicionais da região de Juruti Velho compreendidas no PAE Juruti Velho, tomando as providências administrativas e judiciais necessárias para tal fim, assegurando que as intervenções a serem realizadas na área sejam aprovadas pelas autoridades competentes, respeitados os licenciamentos ambientais respectivos; representando os interesses das comunidades e dos moradores que fizeram opção pela terra coletiva, especialmente para garantir infraestrutura necessária ao desenvolvimento das famílias, incentivando o desenvolvimento sustentável das comunidades de sua abrangência em todos os seus aspectos, agindo em defesa da função social da terra, contra a exploração predatória da terra e de seus recursos naturais, tendo em vista à sadia qualidade de vida das comunidades da região; atuando, ainda, em defesa da preservação e resgate da cultura e tradição dos habitantes das comunidades da região de Juruti Velho, com isso buscando unir e solidarizar-se com os movimentos sociais e da classe trabalhadora, atuando sem descanso na defesa dos direitos e garantias ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida, inclusive tomando e implementando medidas necessárias em face de empresas mineradoras, madeireiras e plantadoras de grãos, ou que agem a seus interesses, visando à preservação e conservação ambiental da Região, como meio de erradicar a pobreza e a marginalidade e reduzir as desigualdades sociais, tendo sempre como referência as comunidades tradicionais da Região de Juruti Velho.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

IMAGEM DA ABERTURA DA Iº COPA DA REGIÃO DA MARAVILHA - JURUTI VELHO








MORADORES COBRAM ATUAÇÃO DO SUBPREFEITO DE JURUTI VELHO

 
Moradores da Vila Muirapinima, região de Juruti Velho, participaram no último sábado, 07, de uma reunião na sede Social Boca Júnior, na referida comunidade. Em pauta, a prestação de
contas dos recursos arrecadados pela subprefeitura pelo fornecimento da energia elétrica, e mais empenho para resolver sérios problemas que têm prejudicado muitos moradores. Os moradores querem a prestação de contas dos recursos arrecadados no ano de 2013 e nos primeiros seis meses do ano de 2014. Durante a reunião, Rildo Almeida, responsável pelos equipamentos do cemitério, reclamou do descaso da subprefeitura com a manutenção do material usado nos sepultamentos. “Os equipamentos estão todos danificados, quase em condições de atender às solicitações. Vale ressaltar que esse material foi adquirido no mandato do ex-prefeito Isaias e a falta de manutenção dos mesmos faz com que grande parte desses equipamentos não funcione mais” disse seu Rildo. A situação de diversas ruas, que estão tomadas pelo mato, e o número de terrenos baldios, que tem contribuído para a proliferação do mosquito da dengue foram abordados. No final da reunião foi lido e aprovado um documento, cuja cópia será enviada ao prefeito de Juruti, Marco Aurélio.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

MOVIMENTO SOCIAL FAZ REIVINDICAÇÕES

 
As manifestações ocorridas nos dias 13, 14 e 15 de maio na cidade de Juruti teve como objetivo cobrar do prefeito ações de politicas publicas que atendam as necessidades da população do município.
Algumas das reivindicações dos manifestantes:


 

ENERGIA Por descuido do governo  municipal, o Programa Luz Para Todos – “Programa de Obras 2011/2014” – não atenderá mais de 1.700 residências nos  assentamentos federais PAE Juruti Velho e PA Socó I (ambos afetados pela ALCOA), uma vez que o prefeito até hoje não executou as aberturas de acessos e outros serviços para possibilitar o posteamento e a distribuição dos fios, como se comprometeu em 22.05.2013, por ocasião da reunião com o secretário da Secretaria de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Brasília.
 



ESTRADAS  Na região do Planalto  Mamuru, o escoamento da produção é  quase que impossível, bem como está    impedindo de as crianças frequentarem as escolas.
 
 
 
HABITAÇÃO O prefeito Marcos Dolzane não dá explicação sobre o cadastramento para o programa Minha Casa, Minha Vida, nem em qual área fará tais construções.
 


 
Saneamento  O prefeito publicou que tão logo aprovado o Planejamento Orçamentário Participativo, o POP, obras de infraestrutura de saneamento e sanitária seriam iniciadas, pondo em prática o Plano Diretor de Macro e Microdrenagem.
 

 
Água  Nas comunidades faltam microssistemas, e na cidade, por causa dos constantes  apagões e pela falta de gerenciamento, tem havido constantes interrupções no fornecimento para as residências.
 


 
Educação O problema é gravíssimo, pois há atraso no pagamento de professores e   outros   trabalhadores da educação, bem como o não      fornecimento de merenda escolar de qualidade, contratação de professores por indicação política, atraso no pagamento do transporte escolar e no     combustível que abastece as lanchas escolares, o que deixa os alunos sem transporte.

 
Saúde Falta de medicamentos e profissionais nos postos de saúde das comunidades, postos de saúdes abandonados e outros para construir, bem como falta de médicos para atendimento, entre outros.


















 
 
 
 
 

COPA & COZINHA

Por: Frei Betto

Em manifestação de rua em São Paulo, um homem maltrapilho segurava um cartaz: "Sou morador de rua. Quero Copa... cozinha, banheiro, sala, quarto e tudo que tenho direito". Estamos às vésperas da Copa do Mundo. Recebemos visitas em uma casa que ainda
 
não está devidamente arrumada. Estádios são maquiados para disfarçar obras inacabadas e aeroportos se parecem com praças de guerra, tamanha a poeira e os ruídos.

Se a sala da Copa ainda exige faxina, na cozinha o caldeirão ferve. O governo tem o azar de a Copa coincidir com o ano eleitoral. E demonstra que não aprendeu a lição das manifestações de rua na Copa das Confederações, em 2013.

Aquelas foram manifestações pacíficas, mobilizadas pelas redes sociais e "acéfalas": sem discursos, partidos, siglas embandeiradas e propostas. Apenas protestos. A opinião pública deu amplo apoio enquanto elas se mantiveram imunes aos provocadores que, ao depredar os patrimônios público e privado, jogaram parcela considerável da população contra os manifestantes.

Marx já advertira os operários, no século 19, que de nada adiantava quebrar máquinas de fábricas. A luta não é contra os patrões, é contra o sistema, dizia ele. Contudo, ainda hoje o esquerdismo perdura como "doença infantil do comunismo", como diagnosticou Lênin, e a repressão policial se infiltra para desvirtuar os protestos.

O governo erra ao não dialogar com os movimentos sociais, em especial os da juventude. Parece não perceber o paradoxo: fez-se inclusão social, por meio de políticas sociais e medidas "contracíclicas", mas não se promoveu inclusão política. Por mais espantoso que soe, esses 12 anos de governo petista, sustentado por um esdrúxulo balaio de alianças, foram despolitizantes. Nutriram o bolso, não a consciência crítica.

É fato que o governo favoreceu o acesso do povo a bens pessoais. Qualquer barraco de favela contém geladeira, TV, máquina de lavar e telefones celulares. Desonerou-se a "linha branca", congestionaram-se as ruas de carros graças ao crédito facilitado. O que parecia um avanço resultou em equívoco. E os bens sociais? As manifestações pedem educação, saúde, transporte público e segurança "padrão Fifa".

O processo de "aceleração do crescimento" deveria ter feito o percurso inverso, a exemplo da Europa Ocidental a partir da Revolução Industrial. Primeiro, educação de qualidade, sistema de saúde socializado e adequado, saneamento, metrôs e ferrovias. O que favoreceu o acesso aos bens pessoais, malgrado as duas guerras que afetaram o Velho Continente.

O PT não chegou ao Planalto graças à "Carta aos brasileiros" endereçada aos banqueiros e empresários. Chegou pela acumulação de forças dos movimentos pastorais, sociais e sindicais ao longo de 24 anos (1978-2002). Não soube, porém, administrar esse capital político. Isolou-se no Planalto sem dar ouvidos à planície. Abandonou o trabalho de base, a ponto de já não dispor de militância voluntária em períodos eleitorais e se ver obrigado a remunerar jovens desocupados para segurar cartazes nas esquinas...

Agora, a cozinha invade a Copa. Tomara que o governo não troque as bolas pelas balas. Vamos torcer pelo Brasil! Para que vença a Copa e saiba ouvir o clamor da cozinha, cujos manifestantes, na falta de canais políticos confiáveis, aprenderam que governo é que nem feijão, só funciona na panela de pressão.

IMAGENS DA MANIFESTAÇÃO EM JURUTI 14.05.14