quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CRIAÇÃO DE GALINHAS E DE PEIXES EM GAIOLAS – ALTERNATIVA QUE PODE MUDAR A VIDA DE COMUNIDADES DA REGIÃO DE JURUTI VELHO

Dona Ester Pereira
Dona Ester Pereira
 
Juruti Velho, a cerca de 03h de barco do porto de Juruti, Oeste do Pará, é uma região composta por 51 comunidades, onde vivem aproximadamente 9 mil pessoas. Tem atraído a atenção de turistas de várias partes do Brasil e do exterior por suas belezas naturais, que mostram o potencial turístico que a região oferece. As águas escuras que banham Juruti Velho revelam grande atrativo no período de setembro a fevereiro: belas praias de areia branca e de água cristalina, que podem ser encontradas com facilidade em quase todas as comunidades que formam a região. Mas tanta beleza esconde uma triste realidade: capturar o peixe para a alimentação do dia a dia dos comunitários não é nada fácil. A escassez do produto tem levando muitos moradores a investir em outras atividades, como a criação de peixe em gaiola flutuante e a criação de galinha. A iniciativa faz parte de um projeto denominado ACORJUVE Sustentável, criado pela Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho.
Há dois anos, a rotina de dona Ester de Matos Pereira, que mora na comunidade Monte Moriá, tem sido a mesma: acordar cedo, preparar o café para o marido e cuidar das galinhas que cria no quintal. A criação de aves foi alternativa encontrada por ela para conseguir um dinheiro a mais, haja vista que a produção de derivados da mandioca, como a farinha e o beiju, não estava sendo suficiente para gerar a renda necessária para a manutenção da família e da pequena propriedade, que fica às margens do lago Juruti Velho.
Além da criação de galinhas e peixes, há a produção de mudas de espécies nobres
 
 Além da criação de galinhas e peixes, há a produção de mudas de espécies nobres
O casal recebe frequentemente a vista de pessoas de várias partes do município de Juruti, interessadas nas galinhas criadas por dona Ester. Segundo ela, a criação dá muito trabalho, mas os resultados são satisfatórios. Em 2012, dona Ester recebeu da Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho – ACORJUVE uma importante contribuição que fortaleceu ainda mais a atividade. Com recursos oriundos da associação, ela construiu um novo galinheiro e recebeu 50 pintos. Dona Ester explica que depois de 03 meses as aves estão no ponto de abate. Cada frango é vendido a um preço que varia de R$ 20,00 a R$ 25,00. Alguns chegam a pesar cerca de 02 quilos.
Nos próximos meses, o casal de comunitários pretende preparar um local especial para investir na produção de ovos.
Hoje, dona Ester cuida de aproximadamente 100 aves, que estão no ponto de ser comercializadas. As galinhas são alimentadas duas vezes ao dia, pela manhã e tarde. Diariamente, são necessários 15 quilos de ração ou de milho para alimentá-las.
Enquanto dona Ester cuida das aves, o esposo dela, seu José, trabalha na produção de mudas de espécies nobres, como o Cumaru. As mudas produzidas por ele são usadas no reflorestamento do local onde moram. O casal ainda cultiva árvores frutíferas que, em breve, estarão produzindo e gerando mais uma alternativa de renda.
Gaiolas flutuantes para criação de peixes, como o tambaqui
Gaiolas flutuantes para criação de peixes, como o tambaqui
Hoje, 25 comunitários de Juruti Velho estão investindo na criação de galinha. E esse número deve aumentar, pois outros moradores estão mostrando interesse em desenvolver a atividade, que tem se apresentado como uma boa fonte de renda.
Além da criação de galinha, alguns produtores também apostam na produção de hortaliças e na criação de peixe em gaiola flutuante.
A proposta de criação de peixe em gaiola surgiu no ano passado. Em 2012, alguns moradores de Juruti Velho participaram de treinamento e receberam orientações para desenvolver a atividade. Na oportunidade, os comunitários ficaram entusiasmados e apostaram na idéia. Em janeiro de 2013, trinta e duas pessoas começaram a colocar em prática os conhecimentos adquiridos e, com o apoio da ACORJUVE, estão criando peixes da espécie tambaqui, em gaiolas colocadas no lago Juruti Velho.
As gaiolas são construídas em madeira, encontrada na própria região, e forradas com uma espécie de tela. Recipientes de plástico fixados nas bordas das gaiolas garantem a flutuação. “Apresentamos aos comunitários um material acessível. Tanto a madeira quanto os recipientes plásticos podem ser encontrados com facilidades, a baixo custo”, destaca a técnica em Recursos Pesqueiros da ACORJUVE, Sara Xavier de Oliveira, que presta assistência aos criadores de peixe.
Sara Xavier, técnica de recursos pesqueiros, dá assistência aos produtores
Sara Xavier, técnica de recursos pesqueiros, dá
assistência aos produtores
 
Na comunidade Capitão, por exemplo, a criação de peixe em gaiola é desenvolvida por dois produtores. Seu Antonio Carlos da Silva Magalhães é um deles. Há pouco mais de dois meses deu início à atividade. Numa pequena gaiola, o comunitário colocou 1000 alevinos de tambaqui, dos quais 500 foram doados pela Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho, que também vai fornecer a alimentação dos peixes até eles completarem 11 meses, ocasião em que estarão aptos para a comercialização. Enquanto aguarda, seu Antonio tem se dedicado ao plantio da mandioca para a produção de farinha e de outros derivados, bem como à plantação de hortaliças, para o consumo próprio.
Cada gaiola mede pouco mais de 7m³ e é suficiente para manter os 1.000 alevinos confortáveis durante os primeiros 04 meses. Depois, há a necessidade de mais gaiolas para dividir a quantidade de peixes. Com espaço suficiente, o tambaqui adquire peso e tamanho ideais para comercialização. Regulamente, a técnica em recursos pesqueiros, Sara Xavier, visita os produtores, fazendo o acompanhamento da criação.
Seu Antonio fornece o alimento aos peixes, à base de ração balanceada, três vezes ao dia. Por semana são necessários 03 quilos de ração. Quanto à atividade, o comunitário está muito confiante. Para capturar o peixe usado na alimentação de sua família, composto pela mulher e por onze filhos, seu Antonio precisa ir às margens do rio Amazonas, que fica distante da região, e passar horas pescando. Com a criação, que em breve estará pronta para ser comercializada, o comunitário vai aproveitar uma boa parte para alimentar a família.
 
Fonte: RG 15/O Impacto e Udirley Andrade