sexta-feira, 31 de maio de 2013

PROTESTO CONTRA A ALCOA, EM JURUTI, REÚNE MAIS DE TRÊS MIL PESSOAS EM AUDIÊNCIA PÚBLICA

Mais de três mil pessoas participaram, na tarde da última 4ª feira, 29 de m
aio, de uma audiência pública realizada na sede Sygnus Clube, em Juruti, promovida pelo Movimento Acorda Juruti. Na oportunidade, representantes das mais de vinte entidades que integraram o movimento mostraram sua insatisfação com a empresa ALCOA, responsável pela exploração de bauxita no município.
 

Dentre as entidades que integram o Movimento Acorda Juruti estão a Associação Comercial e Empresarial de Juruti (ACERJ), Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE), Movimento Juruti no Limite, Movimento Juruti em Ação, Sindicato dos Mototaxistas de Juruti, Associação das Comunidades da Gleba Curumucuri (ACOGLEC) e Associação das Comunidades do Planalto Mamuru (ACPM). Mas a a
usência da empresa ALCOA, que não enviou representantes à audiência, deixou muita gente insatisfeita. “A ausência da empresa é um desrespeito total. Isso mostra que a empresa não quer falar a verdade para o povo. Demonstra que não é verdade tudo aquilo que vem dizendo que investiu no município de Juruti”, disse Gerdeonor Pereira, presidente da ACORJUVE.

Na oportunidade, o assessor jurídico do movimento, advogado Dilton Tapajós, apresentou informações que, segundo ele, vão de encontro com as informações d
ivulgadas pela ALCOA. Dilton fez um comparativo do que a empresa prometeu em 2005, por ocasião de sua instalação em Juruti e do que foi realizado de concreto. Segundo Dilton, em 08 anos de implantação e operação a empresa falta cumprir muitos compromissos assumidos em audiência púbica promovida há 08 anos. De acordo com dados apresentados pelo advogado, nessa audiência pública a empresa prometeu gerar 5.800 empregos diretos, mas está gerando somente 2.109 de forma direta e indireta. É o que mostra, de acordo com Dilton, um panfleto distribuído pela ALCOA.

Outra informação apresentada pelo assessor jurídico do Movimento Acorda Juruti, que também chamou a atenção das pessoas que estiveram presentes no manifesto da última 4ª feira: a ALCOA prometeu integração com a comunidade, que não iria construir vilas especiais para funcionários etc. Mas está fazendo o oposto do que prometeu. A prova, de acordo com Dilton, é a construção de um residencial no bairro Bom Pastor, em que tanto a empresa contratada para executar o serviço de construção quanto o material utilizado na obra são provenientes de outras cidades, deixando de ofertar emprego para moradores de Juruti e deixando de gerar renda no comércio local, que poderia muito bem fornecer o material de construção necessário.

Mas a indignação do advogado não para por aí. Ele também quis saber das ações para aproveitamento científico da vegetação, com informações à comunidade; criação e manutenção de unidade de conservação; apoio na implantação do plano diretor de Juruti, com infraestrutura necessária, inclusão para a realocação da população remanejada, em especial aqueles moradores que vivem em áreas por onde passa a ferrovia da mina, que coloca em risco a vida de muita gente, principalmente de crianças; plano de oportunidades de investimentos e incentivos às atividades locais; cursos profissionalizantes seriam realizados no período entre a licença prévia e a licença de instalação; empregos seriam primeiramente para moradores de Juruti; cursos de capacitação para professores e construção de mais salas de aula etc. “Mas, infelizmente nem um representante da empresa veio a esta audiência pública para esclarecer esses fatos”, lamentou Dilton Tapajós.
 

O prefeito em exercício de Juruti, Jonas Moraes, participou da audiência e disse que a reivindicação da comunidade é legal, democrática. Lamentou a ausência da ALCOA, que, segundo ele, perdeu uma oportunidade de conversar com a comunidade. Com relação à Agenda Positiva, na qual a empresa prometeu realizar diversas ações em Juruti, Jonas disse que muitas obras ainda não foram executadas. “Nós estamos sentando com a empresa para avaliar a Agenda Positiva e discutir novas propostas para executar na atual administração”, destacou o prefeito em exercício.

O ex-prefeito de Juruti, Henrique Costa, também participou da audiência. Na oportunidade, ele propôs uma prestação de conta dos recursos repassados pela ALCOA durante sua administração (2005-2012), bem como mostrar em que foram utilizados esses recursos, repassados através de impostos à Prefeitura de Juruti.

O deputado estadual Zé Maria (PT), filho de Juruti, também se manifestou na audiência pública, e se mostrou favorável à implantação d
e uma empresa para o beneficiamento da bauxita em Juruti. “Uma das alternativas pra geração de emprego e renda é a industrialização dessa bauxita, em Juruti. Do contrário, nós estaremos alimentando uma possibilidade da geração de outros empregos, que não tem. Pois nós já conhecemos que apenas a forma de extração, como está sendo feita hoje, gera poucos empregos. Eu acho que a saída para essa questão da mineração em Juruti é buscar alternativas para verticalizar essa produção de minério”, disse o parlamentar.

“Vamos fechar a nossa pauta de reivindicações e entregar o
documento ao Ministério Público Federal para o mesmo seja encaminhado à ALCOA. Esperamos que a empresa dê uma resposta ao Ministério Público e, de acordo com essa resposta, o movimento vai avaliar e tomar uma decisão de como vai proceder a partir de agora. A nossa pauta de reivindicações possui 22 itens. Não e nada de absurdo. É tudo que a empresa prometeu em 2005 e que não vem sendo cumprido”, finalizou Gerdeonor Pereira.
 


A audiência durou cerca de 05 horas. E, no final, o documento, que apresenta as  reivindicações levantadas pelas 22 entidades que formam o Movimento Acorda Juruti, foi entregue à Ticiana Nogueira, representante do Ministério Público Federal – MPF, que veio de Brasília especialmente para participar da audiência pública.

 
Texto: Udirley Andrade
Fotos: Isabel Cristina/ACORJUVE

AUDIÊNCIA PUBLICA REALIZADA DIA 29 DE MAIO


Momento de assinatura do documento final da audiência publica do dia 29 de maio
na sede social Signos Clube
 
 

 
 


 
 

 
 


 
 
 
 

 
 


Gerdeonor Pereira - Presidente da ACORJUVE
 
Deputado Estadual Zé Maria

POPULAÇÃO DE JURUTI FAZ MANIFESTO REIVINDICANDO INVESTIMENTOS DA ALCOA


Mais de 3 mil pessoas participaram de uma reunião com a presença do ministério Público Federal para discutir e elaborar uma série de reivindicações à empresa que até hoje não gerou os empregos prometidos aos moradores da cidade.
 
 

Gerdeonor Pereira, representante do movimento social diz que a empresa não respeita a população, nem as autoridades municipais, quando não comparece para resolver questões referentes a situação causada pela própria companhia.
 
Durante a reunião surgiu a proposta de fechar o trabalho da mineradora no município, como forma de chamar a atenção das autoridades para a problemática que se criou depois da instalação da empresa naquele município.
 
 
O deputado estadual Zé Maria (PT) esteve na reunião e diz qual seu posicionamento a respeito dessa proposta. Ele sugeriu que a empresa faça a industrialização da bauxita na região, como forma de gerar emprego para a população.
 
O prefeito em exercício de Juruti Jonas Moraes defende o manifesto da população e se coloca a disposição da sociedade para dialogar com a empresa.
 
 
Fonte: Redação da Rádio Rural

ALCOA FAZ CHANTAGEM E AFRONTA JURUTI E O PARÁ COM AMEAÇAS

 A empresa se recusa a negociar com os moradores da cidade, boicotará a reunião e está fazendo todo tipo de pressão para que o evento não ocorra, ameaçando demitir os trabalhadores e até fechar a sua planta na região.
 
No blog da Franssinete

Na próxima quarta-feira, 29, o Movimento Acorda Juruti realiza audiência pública para debater os impactos sociais e ambientais causados pela Alcoa no município de Juruti, no Oeste do Pará. Em 2006, a mineradora assumiu o compromisso de realizar diversas obras para compensar a extração de bauxita. Após 7 anos, a comunidade denuncia o descumprimento das promessas e exige o que ficou acordado.

Os maiores impactos da lavra ocorreram nas comunidades tradicionais do entorno do Lago Grande de Juruti Velho, distante cerca de 45 Km da cidade de Juruti, com desmatamento contínuo de árvores centenárias e o uso da água do rio para lavar a bauxita, afetando as principais fontes de sobrevivência da comunidade, pesca e extrativismo vegetal, denuncia a população local, aduzindo que os problemas se arrastam desde 2002, quando a Alcoa iniciou sua instalação, desestruturando continuamente a vida social e econômica das comunidades que vivem na região há mais de 100 anos.

Na época, as irregularidades foram observadas pelo MPE-PA, que recomendou a suspensão da licença para operação da empresa, considerando que os critérios políticos não podem desprezar os estudos socioambientais do projeto, que atraiu milhares de trabalhadores de todo o País, multiplicando o custo de vida local, desestruturando os serviços públicos e criando bolsões de miséria.

Uma moção de apoio ao Movimento Acorda Juruti foi assinada por 21 entidades representativas dos munícipes, denunciando que a população vivencia hoje “os mais variados e angustiantes problemas, jamais ocorridos antes da chegada da Alcoa, como retenção dos investimentos da cidade, não contratação das empresas e mão de obra local e inchaço populacional”.

A Câmara Municipal também se manifestou solidária ao Movimento Acorda Juruti, através de Moção aprovada em plenário.

A Alcoa divulgou carta na qual avisa que não irá à audiência pública e joga a responsabilidade pela situação nas costas do Estado, do Município e da União, para os quais diz ter recolhido R$ 427 milhões em tributos, impostos e compensações, de 2006 ao primeiro trimestre de 2013, com o que considera que já fez mais do que devia em troca do lucro bilionário que retira de lá, alfinetando inclusive o governo do Estado quanto à aplicação do dinheiro – R$ 36 milhões entre 2008 e 2013 - que pagou a título de CFEM (Compensação Financeira pela exploração de recursos Minerais), os chamados royalties da mineração, e R$ 4,6 milhões entre 2012 e o primeiro trimestre deste ano, de TRFM (Taxa de Controle, Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários).

E ainda ameaça “reduzir ou mesmo parar a operação de Juruti, tendo como consequência a redução da arrecadação de taxas, impostos e compensações”.

Está mesmo na hora de serem tomadas sérias e urgentes providências. MPF, MPE, Governo do Estado e Alepa precisam se posicionar perante tão grave questão, que afronta todos os paraenses.

JURUTI PEDE SOCORRO

juruti pede socorro
 
No dia 29 de maio está prevista para ocorrer uma Audiência Pública para debater os impactos sociais e ambientais da Mineradora Alcoa na cidade de Juruti, Oeste do Pará.
Em 2006, a empresa se comprometeu em realizar diversas obras na cidade para compensar a sua intensa extração de bauxita, usada para fazer alumínio.
Após 7 anos, a comunidade denuncia que as obras não foram realizadas e organizou o Movimento Acorda Juruti para exigir o que ficou acordado.
Porém, a empresa se recusa a negociar com os moradores da cidade e está fazendo todo tipo de pressão para que a nova Audiência Pública não ocorra, ameaçando demitir os trabalhadores e fechar a sua planta na região.
Os maiores impactos da intensa exploração extrativista mineral ocorreram em nas comunidades tradicionais do entorno do Lago Grande de Juruti Velho, distante cerca de 45 km da cidade de Juruti,  com desmatamento contínuo de árvores centenárias e o uso da água do rio para lavar a bauxita, afetando as principais fontes de sobrevivência da comunidade, pesca e extrativismo vegetal.
Os problemas se arrastam desde 2002, quando a Alcoa iniciou a instalação da sua estrutura empresarial, desestruturando continuamente a vida social e econômica das comunidades que vivem na região há mais de 100 anos.
Na época, as irregularidades foram observadas pelo Ministério Público Estadual que recomendou a suspensão da licença para operação da empresa, considerando os critérios políticos não podem desprezar os estudos ambientais e os critérios técnicos que garantissem a viabilidade ambiental do projeto que atraiu trabalhadores de outras regiões, aumentando o custo de vida na cidade.
Uma moção de apoio ao Movimento Acorda Juruti foi assinado por 21 entidades representativas dos munícipes, denunciando que a população vivencia hoje “os mais variados e angustiantes problemas, jamais ocorridos antes da chegada da Alcoa, como retenção dos investimentos da cidade, não contratação das empresas e mão de obra local e inchaço populacional”.
Isolados pelo poder econômico da empresa, que domina os meios de comunicação para impedir qualquer divulgação negativa que possa influenciar novos investimentos internacionais, a comunidade de Juruti vem a público pedir socorro para as entidades sociais se manifestarem em sua defesa.
Assim, solicitamos que as entidades sociais enviem notas de solidariedade ao Movimento Acorda Juruti para o e-mail acorjuve.10@gmail.com, e divulguem para a imprensa em suas cidades, estados e regiões.
Outras informações podem ser obtidas com Geodonor Pereira dos Santos, diretor da Associação das Comunidades de Juriti Velho (Acojuve), pelo telefone (093) 91763973.  O blog da entidade é: acorjuve-acorjuve.blogspot.com.
O que é bauxita                                         
Bauxita é um minério que deve conter, no mínimo 30%  de óxido de alumínio para que sua produção seja economicamente viável. São necessárias quatro toneladas de bauxita para produzir uma tonelada de alumínio. O Pará é o maior produtor de bauxita do país, representando 85% da extração do minério.
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Enviada por Ruben Siqueira para Combate Racismo Ambiental.
 

sábado, 25 de maio de 2013

PROGRAMA “LUZ PARA TODOS”. INCLUSÃO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO AGROEXTRATIVISTA FEDERAL JURUTI VELHO (PAE JURUTI VELHO), GLEBA JURUTI VELHO, NO PROGRAMA DE OBRAS 2011/2014





Vila Muirapinima, Região de Juruti Velho, Juruti (PA), 22 de maio de 2013.

 

 

Excelentíssimo Senhor

EDISON LOBÃO

Ministro de Estado do Ministério de Minas e Energia

Brasília – DF

 

 

Assunto: PROGRAMA “LUZ PARA TODOS”. INCLUSÃO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO AGROEXTRATIVISTA FEDERAL JURUTI VELHO (PAE JURUTI VELHO), GLEBA JURUTI VELHO, NO PROGRAMA DE OBRAS 2011/2014

 

Senhor Ministro,


 

            Cumprimentando-o, a Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho (ACORJUVE), CNPJ 07.023.341/0001-21, com sede na comunidade Vila Muirapinima, entidade associativa sem fins econômicos, que congrega em torno de 2.500 unidades familiares, moradoras de 48 comunidades tradicionais da região de Juruti Velho, zona rural do município de Juruti, oeste do Estado do Pará, cujo território de 96.000 ha (noventa e seis mil hectares) foi destinado definitivamente pelo INCRA ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Juruti Velho (PAE Juruti Velho), Gleba Juruti Velho, neste ato representada por seu Diretor Administrativo, Sr. Gerdeonor Pereira dos Santos, brasileiro, solteiro, agricultor familiar, residente e domiciliado na Vila Muirapinima, região de Juruti Velho, zona rural do Município de Juruti/PA, RG nº 1108031-0 SSP/AM, CPF nº 445.580.072-72, vem, respeitosamente, considerando que o Programa “LUZ PARA TODOS” tem como objetivo propiciar o atendimento, em energia elétrica, à parcela da população do meio rural que ainda não possui acesso a esse serviço público, estabelecendo prioridade para os assentamentos rurais, SOLICITAR a V. Exa. que envide todos os esforços e meios necessários para incluir o Projeto de Assentamento Agroextrativista Juruti Velho (PAE Juruti Velho), Gleba Juruti Velho, no Programa de Obras 2011/2014, justificando nosso pedido pelas seguintes razões:

·         O PAE Juruti Velho está localizado na Gleba Juruti Velho, no município de Juruti, no limite com o município de Parintins/AM, na parte oeste do Estado do Pará, é integrado por 48 comunidades tradicionais ribeirinhas, com aproximadamente 2.500 unidades familiares, com uma população estimada em 10.000 (dez mil) pessoas, cuja renda familiar não ultrapassa três salários mínimos, provinda da agricultura, pesca, extrativismo, pequena pecuária, pequeno comércio e aposentadoria rural; tratando-se, portanto, de região carente, com certo isolamento do centro administrativo da cidade Juruti: a Vila Muirapinima, distrito administrativo do PAE Juruti Velho, dista 1 hora, de lancha pequena, da cidade de Juruti e 12 horas, de barco, da cidade de Santarém;

·         Todas as comunidades que integram o PAE Juruti Velho utilizam sistema próprio de energia, por meio de motor de luz a diesel, com funcionamento primordial das 18 ás 24 horas, e, também, para abastecer os sistemas de captação de água comunitário (em média 50 unidades familiares/comunidade);

·         Somente a Vila Muirapinima, distrito administrativo do PAE Juruti Velho, que conta com 700 unidades familiares concentradas, aproximadamente 3.000 pessoas, onde há duas escolas municipais, posto de saúde, posto da Polícia Militar e o pequeno comércio mais significativo, consome 24.000 litros de diesel/mês, para funcionar 10horas/dia, com custo de R$ 80.000,000/mês;

·          A multinacional ALCOA está minerando em parte do território destinado pelo INCRA ao PAE Juruti Velho, o que ocasionou um crescimento na demanda de energia nas comunidades, haja vista que muitos comunitários que tinham suas rendas familiares baseadas em atividades econômicas da agricultura, pesca, pequena pecuária e extrativismo, foram estimulados a buscar empregos na ALCOA ou em suas contratadas e subcontratadas, abandonando suas atividades primárias, mas sem conseguir se firmar como empregados, o que os levou posteriormente a montar pequenas vendas, motivado-os, também, pelo recebimento do direito na participação dos resultados da lavra, pagos pela ALCOA, o que levou ao consumo de eletrodomésticos e outros bens que requerem energia para conservação de alimentos, bebidas etc;

·         Atualmente, há forte pressão socioeconômica nos moradores da região de Juruti Velho em decorrência do empreendimento minerário sob responsabilidade da multinacional ALCOA, mudando a essência cultural tradicional das comunidades que integram o PAE Juruti, o que requer que projetos alternativos sejam cultivados, o que exige, necessariamente, o acesso ao serviço público de eletrificação rural, sob pena de exclusão social em massa e êxodo para as cidades mais urbanizadas, a exemplo de Juruti, Parintins ou Santarém;

·         Igualmente, houve aumento da criminalidade na cidade de Juruti e na Vila Muirapinima, com muitos casos de uso de drogas e bebidas, brigas entre comunitários, furtos, ou seja, violência social, o que antes não fazia parte daquelas comunidades tradicionais, requerendo a presença institucional da Polícia Militar e da Policia Civil na Vila Muirapinima, onde estará sendo construído o prédio que abrigará o Destacamento da Polícia Militar de Juruti Velho e da Delegacia de Juruti Velho;

·         A Gleba Juruti Velho já havia sido contemplada no Programa “LUZ PARA TODOS”, conforme se depreende pelos documentos que ora anexamos a este expediente: (i) RELATÓRIO ELABORADO PELA REDE CELPA – DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS – GERÊNCIA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL: Atendimento da Gleba Juruti Velho, Análise das Possibilidades de Atendimento pelo PLT, fevereiro de 2011; (ii) MEMÓRIA DE REUNIÃO OCORRIDA MO MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA – SECRETARIA DE ENERGIA ELÉTRICA; (iii) EXPEDIENTE CTA-DER-Nº 186/2011, DATADO DE 11/11/2011.           

            Pelo exposto, considerando que ao Ministério de Minas e Energia compete coordenar o Programa “LUZ PARA TODOS” e outras atribuições constantes do Manual de Operacionalização – PROGRAMA “LUZ PARA TODOS”, pg. 09, tendo presente, ainda, que o atendimento com energia elétrica da Gleba Juruti Velho, no município de Juruti-PA, por meio do Programa “LUZ PARA TODOS”, já estava previsto, inclusive com elaboração do Relatório Atendimento da Gleba Juruti Velho, Análise das Possibilidades de Atendimento pelo PLT”, elaborado em fevereiro de 2011, pela Diretoria de Projetos Especial – Gerência de Eletrificação Rural, da Rede Celpa, e outros atos para firmar a operacionalização dos serviços, o que não ocorreu por falta de abertura de acessos às comunidades que integram a região de Juruti Velho (compromisso da Prefeitura de Juruti/PA); considerando, notadamente, que as famílias não podem ser prejudicadas pelo descaso dos poderes públicos constituídos; e considerando que a pressão socioeconômica enfrentada pelas comunidades da região de Juruti Velho requer o acesso ao serviço público de eletrificação rural, sob pena de exclusão social e êxodo de muitas unidades familiares, SOLICITAMOS a V. Exa. que envide todos os esforços e meios necessários para incluir o Projeto de Assentamento Agroextrativista Juruti Velho (PAE Juruti Velho), Gleba Juruti Velho, no Programa de Obras 2011/2014, do Programa “LUZ PARA TODOS”, comprometendo-nos a diligenciar parceria com a Prefeitura de Juruti para dar apoio aos serviços suplementares necessários.

            Sendo o que se apresenta para o momento, oportunidade em que apresentamos votos de respeito e consideração.


 

Atenciosamente,

 

GERDEONOR PEREIRA DOS SANTOS

Diretor Administrativo da ACORJUVE


CARTA Nº 0067/2013. REPORTA-SE AO CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO DA AUDIÊNCIA A SER REALIZADA NA SEDE SOCIAL DO SIGNUS CLUBE, NO DIA 29 DE MAIO DE 2013


Juruti/PA, 25 de maio de 2013.

 

Ilustríssimo Senhor

CLÁUDIO J. VILAÇA LAPA

Gerente-geral

Alcoa Mina de Bauxita de Juruti

 

 

Ref.: CARTA Nº 0067/2013. REPORTA-SE AO CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO DA AUDIÊNCIA A SER REALIZADA NA SEDE SOCIAL DO SIGNUS CLUBE, NO DIA 29 DE MAIO DE 2013

 

         Senhor Gerente-geral,

 

         Cumprimentando-o, o Movimento Acorda Juruti (MAJUR), coletivo social que congrega entidades da sociedade civil da cidade e do campo e instituições e autoridades públicas de Juruti, lamenta a recusa dessa empresa em participar da Audiência Pública que se realizará em Juruti, na sede social do Signus Clube, no dia 29.05.2013, a partir das 14 horas, tendo por objetivo discutir e propor encaminhamentos concretos, objetivos e seguros para resolver os sérios problemas sociais, econômicos e ambientais por que passa a população de Juruti decorrentes da implantação do projeto minerário conduzido pela ALCOA.

         A rejeição dessa empresa, expressa na CARTA Nº 0067/2013, datada de 23.05.2013, a nosso sentir, além de suas contradições intrínsecas e desvirtuamentos do que contém o convite endereçado à Alcoa, representa desrespeito às organizações legítimas da sociedade civil, às autoridades públicas constituídas do nosso Município e as que se deslocarão de outras cidades, e, particularmente, ao povo jurutiense, haja vista que todas as informações esboçadas na referida CARTA poderiam ser apresentadas, com esclarecimentos adequados, a toda à população de Juruti e submetidas às reflexões e críticas por quem efetivamente detém a legitimidade para refletir sobre a “contribuição da Alcoa para o desenvolvimento de Juruti” e sobre o “volume extraordinário de recursos financeiros e de iniciativas sociais e ambientais que foram destinados a Juruti por meio de órgãos públicos e associações de natureza civil desde antes da implantação do projeto”: o povo de Juruti.

 Insinuar que esta Audiência Publica não é legítima constitui-se num grave equívoco de avaliação. A quantidade e a qualidade das instituições sociais envolvidas na organização deste evento é prova inequívoca da representatividade e legitimidade desta iniciativa popular.

Portanto, esperamos firmemente que a ALCOA reveja seu posicionamento e, efetivamente, compareça para fazer seus esclarecimentos, apresentar suas posições e, sobretudo, ouvir os reclamos autênticos da população urbana e rural do município de Juruti.

Estamos, mais uma vez, fazendo o convite ao diálogo, pois acreditamos que este é o melhor caminho para nós e para a empresa na perspectiva do entendimento.

         Sendo o que se apresenta no momento, renovamos votos de respeito e consideração.   

 

Cordialmente,

 

 

MOVIMENTO ACORDA JURUTI – MAJUR

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

"A MINERAÇÃO É UMA PRAGA"

 Entrevista com a irmã Elsie Monge 22/5/2013

Apesar de ainda não ter minas em processo de exploração no Equador, o interesse de transnacionais e o processo de estudo de área já estão afetando famílias, que começam a ser deslocadas. Em entrevista à Tatiana Félix da Adital, 21-05-2013, a irmã Elsie Monge, diretora executiva da Comissão Ecumênica de Direitos Humanos (CEDHU) do Equador, fala da mineração em seu país, a luta do povo em defesa de seus territórios e da natureza, e dos efeitos destes projetos na América Latina.
 
Eis a entrevista.
 
Atualmente, quais são os projetos mineiros que estão afetando a população equatoriana?
Bom, 4% do total do território equatoriano foi concedido para megaempresas mineiras. São uns 980 mil hectares para metálicos e outros 121.600 hectares para não metálicos. Então, a maioria das concessões mineiras foi dada para empresas canadenses, e agora também estão entrando as empresas chinesas. A maioria das vezes para minas metálicas: ouro, prata, cobre, etc. Estão, ainda, em fase de estudo da área, umas mais avançadas que outras. Por exemplo, em Zamora, existe um projeto, "Mirador”, que também estava em mãos de canadenses e agora passou para os chineses. Houve gente deslocada porque quando entra uma empresa mineira o que fazem são despejos, ou seja, limpar onde vão fazer as instalações e a gente que está ali tem que sair, por bem ou por mal.
 
Então, neste projeto "Mirador”, ao sul da Amazônia, próximo à fronteira com o Peru, existem 45 famílias que foram deslocadas da Paróquia Tundayme, e um povoado, San Marcos, já não existe. As mais de 15 famílias que viviam ali já não estão. Isso preocupa porque têm que ir embora, mas o Estado não vigia se existe algum processo de compra, pois também existem muitas irregularidades e o Estado não supervisiona este processo, nem tampouco se existe relocalização. Mas isso acontece, não apenas em projetos mineiros, como também com projetos hidroelétricos é a mesma tática, por certo, que eles aplicam. Outro setor bastante afetado está na província Azuay, onde existem minas de ouro, onde vão ser afetadas as lagoas e as vertentes de água.
 
Dentro deste contexto, que efeitos existem em termos de desocupação, em cumprimento dos convênios dos povos ancestrais?
 
Bom, é o que eu estava dizendo: que existem deslocados. O fenômeno é o deslocamento, ou seja, que têm que sair de suas comunidades porque ali vai se localizar a mina. Então, às vezes, existem processos de compra e venda, mas com muitas irregularidades, e outras vezes também se usa a força. Estes seriam os fenômenos. Em cumprimento dos convênios, não existem convênios desde o Estado equatoriano com os povos indígenas ou campesinos. Não existem convênios com o Estado equatoriano. Mas, rege, por exemplo, o convênio da OIT (Organização Internacional do Trabalho), sobre os direitos dos povos indígenas a suas terras e a seus recursos. Este seria esse Convênio. E a Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas tampouco se aplica.
 
Também as concessões que se dão, como disse antes, não levam em conta os territórios indígenas. Mas a Constituição do Equador assinala que deve haver uma consulta nestes casos, consulta aos povos afetados. Isso tampouco está se cumprindo. Então, também se viola a Constituição.
 
Em um vídeo produzido pela Comissão Ecumênica de Direitos Humanos, vocês demonstram em contrário às afirmações do presidente de que não existem deslocados, muitas pessoas que dão seus testemunhos de que foram deslocadas. Neste sentido, não existe um diálogo com o governo?
 
Não existe diálogo. O problema é que não são apenas concessões isoladas, mas o temor é que a mineração seja o modelo de desenvolvimento. Então, ai se pode imaginar que existe um acordo entre as transnacionais e o governo.
 
Se não existe diálogo, como as comunidades e as organizações planejam realizar ações para defender seus territórios?
 
Sim, existem as lutas das organizações locais ou da região que se organizam. Por exemplo, neste caso de Azuay que te dizia, que se organizam e fizeram vários protestos. É necessário assinalar que a água vai ser contaminada, e que isso vai afetar não apenas as comunidades vizinhas, mas que como é o nascimento dos rios da montanha, isso vai chegar até Cuenca que é uma das capitais da província e mais além. Então, ali sim houve uma boa organização. Mas, quando os indígenas ou os campesinos reclamam seus direitos e dos direitos da natureza, então eles são reprimidos, são investigados, e alguns, acusados de terrorismo. A pressão é forte.
 
Esta situação é muito semelhante a outras situações e conflitos na América Latina, em outros países acontece o mesmo. Neste contexto, como vocês avaliam a situação na América Latina como um todo?
 
Eu acredito que isso da mineração é uma praga, porque, por exemplo, no caso do Equador, o que diz o governo é "não podemos estar sentados sobre uma montanha de ouro, necessitamos dos recursos, e por isso, tem que explorar a mineração”. Essa é uma visão "deturpada”. O certo é que isso produz ganâncias econômicas que a maioria não tem em território equatoriano, e menos as populações rurais, mas de todas as maneiras, o veem como um ingresso sem considerar os grandes efeitos que vemos em outros países.
 
Em outros países, faz muito tempo que estão na fase de exploração. Aqui, ainda não, mas já se preveem os estragos deste fenômeno e nós tememos que no Equador, igual que no PeruArgentina e Chile, onde houve exploração mineira, se destrua a natureza, a biodiversidade e tudo isso se converte em deserto, os territórios, e isso é o que não queremos. Em alguns outros países já estiveram sofrendo a exploração, mas ai tem mais força na organização e tiveram êxitos também. Por exemplo, em Pascua Lama, entre Argentina e Chile, isso está suspenso. Isso demonstra e anima, pois é possível que não explorem a mina, assim tão impiedosamente.
 
No Peru, existe uma organização muito boa também indígena e em alguns casos evitaram que se continuem explorando as minas. Costa Rica é outro parâmetro para nós. Em Costa Rica proibiram a exploração mineira a céu aberto, é uma decisão desde o Estado, quer dizer que não é impossível, e existem outras alternativas para a exploração mineira. Em Costa Rica, por exemplo, a indústria de turismo tem um ingresso muito alto, e com tantos recursos naturais também se poderia explorar muito mais, desenvolver muito mais o turismo.
 
Existe uma mobilização organizada que luta contra estes projetos. Que denúncias se podem fazer e para quem se podem fazer?
 
Nós, como Comissão Ecumênica e outras organizações também ambientalistas ou de direitos humanos, acompanhamos as pessoas. Primeiramente para fazer-lhes conhecer seus direitos porque isso ajuda para que se organizem e que lhes dá ânimo para lutar. Por outro lato, quando vem a criminalização, porque temos aqui uma forte criminalização do protesto social, então, aí também apoiamos com orientações legais.
 
Então, a Comissão Ecumênica trabalha prestando assessoria às comunidades. Que outras atividades realiza a Comissão Ecumênica?
 
Claro. Também a denúncia pública. Nós estamos todo o tempo divulgando o que está acontecendo e esta declaração do presidente em resposta a uma entrevista dada por mim, em que eu dizia que existem famílias deslocadas à força pelo efeito da presença das empresas transnacionais... Agora, o presidente não aceita que existam deslocados. Eu não sei se é que ele o liga com Colômbia, por exemplo, onde existe um alto percentual de populações deslocadas por causa da violência. Não é nessa porcentagem, mas pode ser que aumente.
 
Para nós, deslocados é uma família, uma comunidade que tem que deixar suas terras, tem que deixar sua casa, se veem forçados a sair, então têm que sair dali, e podem ir ao outro lado, então são deslocados para outro lado. Mas ele não aceita essa definição. Com a denúncia pública se divulga, e repito, à cidadania o que está acontecendo nas áreas de exploração mineira da Amazônia. Mas também fazemos denúncia internacional, isto é importante porque tem a ver com a imagem do país.
 
De uma forma geral, como vocês podem avaliar as conquistas da luta do povo contra estes projetos, não só a luta do povo e sim também da Comissão?
 
Existem vários casos onda a população se organizou para tratar de impedir a construção de grandes hidrelétricas. Temos o exemplo em mineração, no norte do país, em Río Grande Chone. Isso significa a inundação de 1.600 hectares. Em total, o projeto vai afetar aproximadamente 1.500 famílias. Mas, todavia, não começaram a desalojar o povo. Então, frente a isto, eu acredito que é uma luta muito dura, muito desigual. Não podem não tratar de proteger seus direitos e os direitos da natureza.
 
Tem algo mais a acrescentar?
 
Bom, me parece que a nível nacional e internacional é muito importante, muito decisiva, a cobertura ou o apoio dos meios, porque essa é a única maneira de que a nível nacional e também internacional se sabe o que está acontecendo, e de alguma maneira isso é apoio às organizações camponesas e indígenas afetadas. Creio que isto é um dos instrumentos que temos para difundir a situação e mostrar os efeitos que a exploração tem, e creio que é importante, e agradecemos muito o interesse da Adital neste sentido.
 
Fonte: IHU

DIREITOS HUMANOS E DESENVOLVIMENTO


"A presidente da República se orgulha e propaga conquistas pequenas, como anunciar ter elevado o nível de vida de milhões de brasileiros que saíram da extrema miséria para a miséria e desta a uma pseudoclasse média, por outro lado ignora e marginaliza milhões de brasileiros/as que vivem na Amazônia e ameaçados pelas hidroelétricas ditas geradoras de energia limpa. Limpa na ponta, mas suja e perversa na geração. O falso conceito de desenvolvimento assumido e defendido pelo governo brasileiro traz junto o desrespeito aos direitos humanos de seu povo, desrespeito a biodiversidade, a natureza", escreve Edilberto Francisco Moura Sena, padre, coordenador da Rádio Rural de Santarém, Pará.
 
Eis o artigo.
 
Ao pensar no conceito de desenvolvimento pode-se imaginar dois sentidos, um falso e um real. O falso é aquele usado e abusado pelo sistema capitalista, especialmente nos países periféricos em que os direitos fundamentais das pessoas têm pouca importância. Falam de desenvolvimento, quando querem dizer apenas crescimento econômico de uma região ou um país. Mais recente, durante a constatação da crise climática, acrescentaram um adjetivo ilusório, de desenvolvimento sustentável. Já o significado real é o que aponta para melhoria da qualidade de vida de uma população, que inclui melhoria na educação, na saúde, no bem-estar das famílias, no cuidado com o ambiente e a mãe natureza. Portanto, todo desenvolvimento verdadeiro inclui o ser humano e a natureza. O sociólogo brasileiro, perito nesse assunto, Dr. José de Sousa e Silva, em seu livro Despues del desarollo (Quito, Equador, 2012), faz uma análise séria sobre o desenvolvimento como concebido pelo sistema capitalista, e diz que nesta  visão tanto seres humanos como o planeta estão vulneráveis. Diz ele:
 
“As crises globais desde os anos 1960 não são independentes; elas têm a mesma origem e, em seu conjunto, indicam a crise da civilização ocidental e o fracasso da sociedade industrial... O modelo global de desenvolvimento da sociedade industrial promove uma forma de ver o mundo e de nele intervir para transformá-lo que inclui um modo de produção e consumo em desarmonia com as potencialidades e limites da Terra. Por isso estamos vulneráveis, do cidadão ao Planeta”.
 
Mais adiante em artigo complementar, o autor arremata a questão do desenvolvimento assim:
“Por isso, como o progresso no passado, o desenvolvimento no presente é imposto como meta universal, para que o crescimento econômico seja a única estratégia para atingi-la”. Um indicador desta visão é o conjunto das iniciativas oficiais da comunidade internacional: educação para o desenvolvimento, comunicação para o desenvolvimento, como se o desenvolvimento fosse o fim e não um processo. Por que, ao invés de serem dirigidas ao desenvolvimento, estas iniciativas não são dirigidas à construção de comunidades e sociedades mais felizes com modos de vida sustentáveis?"

É o que ocorre há muito tempo e mais acentuadamente hoje na Amazônia, e pode ilustrar esses contrastes de um conceito de duplo sentido de desenvolvimento. O mercado internacional carente cobiça as riquezas ainda abundantes nesta região, minérios, água, madeira, agronegócio. Tais riquezas, escassas nos países do chamado primeiro mundo, os leva a negociar com o governo brasileiro, por exemplo, estratégia de comercialização das riquezas amazônicas. Para tanto, induziram os presidentes da América do sul a criar  no ano de 2000, o Plano IIRSA (Iniciativa para Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana) pretendendo integrar fisicamente todo o continente por meio de ações conjuntas nas áreas de transportes, energia e telecomunicações.
 
O plano é financiado pelos bancos, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e Corporação Andina de Fomento (CAF). Prevê a realização de 524 projetos com objetivo de criar  corredores de ligação entre os oceanos atlântico e pacífico, para escoar a exportação das riquezas da região com maior facilidade e menor custo.
 
O Brasil é um dos membros do chamado grupo dos BRICs, país emergente com comportamento imperialista na América do sul, hoje se considerando a sexta economia mais forte do planeta. Mesmo deixando seu povo para segundo plano, criou uma estratégia de atender aos objetivos do plano IIRSA, com um programa de “desenvolvimento” econômico, chamado PAC - Programa de aceleração do crescimento . Durante o mandato do presidente Lula (2003 a 2010) surgiu o PAC I com aplicação de R$ 504 bilhões de reais nos projetos estruturais. Com o atual mandato da presidente Dilma Rousseff já está em vigor o PAC II com mais bilhões de reais em aplicações, justamente em rodovias, portos, aeroportos, ferrovias, hidroelétricas e uma pequena parte em melhorias urbanas.
 
Em todos esses projetos, o que visa o governo é utilizar os lucros das exportações das riquezas da Amazônia, em vista do crescimento econômico do país. Os povos da Amazônia não entram nas preocupações do governo nacional. O então presidente Lula chegou a dizer publicamente que os obstáculos ao crescimento econômico do país eram: os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, as ONGs e o Ministério Público Federal.
 
Para iludir os desavisados nacionais e internacionais, o Governo Federal apresenta projetos assistencialistas, como o Bolsa família, bolsa atleta, o micro crédito, o projeto Minha Casa minha Vida, este um projeto humilhante indigno de seres humanos, com amontoados de casinhas de 5 x 8 metros, como na cidade de Santarém. O governo usa outro argumento ilusório de que nos últimos cinco anos saíram da miséria e passaram à classe média, famílias que passaram a ter renda de R$1.500,00 equivalente a EU$ 577,00. Nesta matemática, os direitos fundamentais do ser humano são irrelevantes.
 
Os projetos hidroelétricos na Amazônia são também um exemplo de como o conceito de desenvolvimento, não tem a ver com o bem viver dos povos da região. Para os próximos 10 anos estão previstas 38 grandes barragens na Amazônia, com a alegação de que o país precisa de mais energia para manter seu crescimento acelerado. Para tanto, o governo ignora que vivem cerca de 28 milhões de seres humanos só na Amazônia brasileira. E que são mais de 100 povos aqui existentes, cada um com sua cultura, língua própria e até seu território, demarcado,  ou não pelo governo.  São dezenas de terras indígenas não demarcadas, como manda a constituição nacional, porque as empresas e os órgãos federais sabem que naquelas terras existem muitos minérios, madeiras e rios, cobiçados para geração de energia hidroelétrica e outros fins lucrativos.
 
Depois que já foram violados os direitos dos povos tradicionais ao longo do Rio Madeira, em Rondônia, para construir duas grandes hidroelétricas (Jirau e Santo Antonio); depois de ter violado acordos com povos do Rio Xingu, no Pará onde constrói a mega hidroelétrica de Belo Monte, o governo agora violenta as relações com os povos do rio Tapajós. São sete grandes barragens previstas a serem construídas na bacia do rio Tapajós. Pesquisadores e militantes que defendem o bem viver dos povos tapajônicos, afirmam que os desastres serão vários e irreversíveis para o meio ambiente e os habitantes locais. Para se ter uma ideia, a primeira barragem projetada para São Luiz do Tapajós terá 36 metros de altura, barrando toda a largura do rio. Vai causar um lago de 732 km quadrados rio acima e diminuição drástica das aguas do rio abaixo até sua embocadura no rio amazonas, com prejuízos à fauna, flora e comunidades.
 
O povo Munduruku, com 11 mil parentes, (como eles se chamam) estão mais conscientes das consequências negativas das barragens, do que os ribeirinhos não indígenas e por isso, resistem às falácias do governo. Como o governo planejou iniciar a barragem de São Luiz ainda em 2013, o projeto é feito lá na capital federal e chega forçando aceitação dos povos tradicionais que aqui sempre viveram, de bem com a natureza. A violação dos direitos humanos vai se acumulando por parte do Estado brasileiro contra seu próprio povo. A situação de conflito está aqui exposta no caso exemplar do Tapajós, sem respeitar a constituição que exige diálogos de verdade com os povos a serem atingidos pelas barragens.
 
O governo federal mente quando diz que vai construir sete usinas no rio Tapajós, sem prejudicar o ambiente e os povos que aqui habitam. Pagam recursos públicos para pesquisadores e ONG’s chegarem aos ribeirinhos e ao povoMunduruku dizendo que as barragens virão de um jeito ou de outro e quem aceitar e se cadastrar será indenizado de seus prejuízos  porém, quem não aceitar sairá de mãos vazias, ou morrerá afogado nos lagos a serem formados.
Na semana de 18 a 22 de fevereiro, um grupo de líderes Munduruku esteve em Brasília conversando com comandados da presidente da república, Edson Lobão das minas e energia, Ministro Dutra da justiça e o secretário da presidência, Gilberto Carvalho. O Jornal O Globo (22.02) esteve registrando o tal diálogo e publicou o seguinte:
“Os índios vieram trazer uma lista de reivindicações à presidência e se recusavam a entrar no Palácio”. O debate aconteceu na divisa entre a entrada do Planalto e o lado de fora: “vocês têm duas opções, disse o secretário Carvalho: uma delas é inteligente, é dizer ok, nós vamos acompanhar, vamos exigir nossos direitos, vamos exigir preservação e benefícios para nós. A outra é dizer não. Isso vai virar, infelizmente uma coisa muito triste e vai prejudicar muito  a todos, ao governo, mas também a vocês. A hidrelétrica a gente não faz por porque quer, mas porque o país precisa”...
 
Com o ministro Cardoso da Justiça, os Munduruku foram cobrar apuração do assassinato pela Polícia Federal de um parente jovem, em Teles Pires. Eis parte de diálogo: “O ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo) veio falar em diálogo. Vocês (governo federal) são os primeiros a quebrar o protocolo e agir com violência. Queria ver se tivesse sido um índio a ter matado um agente da Polícia Federal... queria ver se ele estaria solto”, declarou Tarabi Kayabi, depois de o ministro Cardozo dizer que espera “um diálogo franco e fraterno” com os indígenas e que “tudo está sendo apurado com rigor e imparcialidade”.

O grupo Munduruku esteve conversando no mesmo dia com o Ministro Lobão das Minas e Energia (ihu 22.02). Eis a afirmação dele: Lobão foi firme. Disse aos índios que o governo não vai abrir mãos das duas usinas e que eles precisam entender isso. Valter Cardeal, diretor da Eletrobrás que também participou da discussão, tentou convencer os índios de que o negócio é viável e de que eles serão devidamente compensados pelos impactos. Os índios deixaram a sala.
Nos últimos dias de abril a situação ficou mais tensa lá na região. O governo enviou 250 militares fortemente armados para garantir que seus técnicos executassem os estudos de impacto ambiental, antes de iniciar a construção da barragem, como exige a constituição. Acontece que a pressa em construir a barragem, com datas estabelecidas para iniciar ainda em 2013, atropela os direitos dos povos tradicionais a serem atingidos. OsMunduruku não aceitam tal violação à constituição nacional e até à cláusula 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é afiliado.
 
No último dia 30/03 lideranças Munduruku enviaram ao governo o seguinte recado: “Se o governo quiser diálogo comMunduruku tem que parar a Operação Tapajós e mandar tirar as forças armadas de nossas terras. Nós não somos bandidos, estamos nos sentindo traídos, humilhados e desrespeitados com tudo isso. O governo não precisa da polícia e da força nacional para dialogar com o povo Munduruku. Nós queremos diálogo, mas só falaremos com o governo, depois que todos os caciques do alto, médio e baixo conversarem e tomarem sua decisão. É nosso último aviso. Se a Operação não parar, não vai ter mais diálogo com os Munduruku, vamos acionar os caciques e vai ter guerra.”
 
O encontro entre lideranças Munduruku e representantes do governo, que deveria acontecer finalmente em 25/04 não ocorreu, mesmo estando ambos os grupos na região. Porém, os Munduruku exigiam a reunião lá em sua aldeia, 2 horas de viagem, de voadeira da cidade de Jacareacanga, onde estavam os representantes do governo. Estes exigiam que a reunião fosse lá na cidade. Como nem um nem outro grupo cedeu, a reunião não aconteceu, confirmando o que predisse umas semanas atrás o secretário de governo Gilberto Carvalho.
Lideranças Munduruku enviaram novo recado ao governo:
 
Associação Pusuru, entidade representativa do povo indígena Munduruku, vem a público desmentir as informações falsas veiculadas pela Secretaria Geral da Presidência da República no dia 26 de abril de 2013, na nota “Governo Federal reúne com indígenas Munduruku em Jacareacanga”.
Pusuru (associação indígena Munduruku) esclarece, em primeiro lugar, que não houve reunião alguma.
 
A reunião estava marcada para acontecer no dia 25, na aldeia Sai Cinza, onde mais de 200 caciques aguardavam os representantes do governo para dialogar sobre a construção das hidrelétricas. Mas o governo se recusou a vir a aldeia e trouxe mais de 200 homens fortemente armados, entre policiais federais, militares do exército e Força Nacional, para a cidade de Jacareacanga.
 
O governo foi informado anteriormente de que são os caciques em assembleia que possuem poder de decisão sobre qualquer assunto que se refira aos direitos de nós povo Munduruku. O governo sabia que a reunião iria acontecer na aldeia Sai Cinza, conforme acordado entre nós indígenas e o governo. Isso está documentado.
 
Carta ao governo brasileiro e à sociedade
Nós, lideranças, caciques e guerreiros Munduruku do Alto, Médio e Baixo Tapajós reunidos para reafirmar nossa posição contrária à construção de barragens em nossos rios, e estamos completamente indignados com a falta de respeito do governo brasileiro por não comparecer ao nosso encontro, marcado para hoje, 25 de abril, na aldeia Sai Cinza, município de Jacareacanga, Pará.
 
Os representantes Tiago Garcia e Nilton Tubino, da Secretaria Geral da Presidência da República, afirmaram aos vereadores Munduruku de Jacareacanga que não iriam à aldeia porque temiam violência da nossa parte, que nós estávamos esperando por eles armados e com gaiolas para prendê-los. O governo está tentando se fazer de vítima, e isso não é verdade. Quem chegou armado na cidade de Jacareacanga foi o governo, com a Polícia Federal e a Força Nacional.
 
Segundo Nilton, o ministro Gilberto Carvalho desautorizou a delegação a vir a nossa aldeia, e tentou impor uma reunião na cidade de Jacareacanga, sob presença militar. E isso nós não aceitamos. Essa reunião já tinha sido desmarcada uma vez. Ela deveria ter acontecido no dia 10 de abril, mas por causa da Operação Tapajós, nós ficamos com medo de um ataque igual ao que aconteceu na aldeia Teles Pires em novembro do ano passado, quando assassinaram nosso parente Adenilson. Por isso nós não aceitamos que esse encontro acontecesse naquela data.
 
E agora o governo chega novamente armado com suas tropas para uma reunião com o nosso povo, e inventa todo tipo de mentira, manipulações e distorções sobre nós Munduruku. Nós queremos o diálogo, mas não é possível ter diálogo com armas apontadas nas nossas cabeças. E achamos que talvez o governo não queira dialogar, porque quem quer dialogar não mata indígena, não invade aldeias e nem vem armado com policiais e helicópteros.
 
Exigimos que o governo pare de tentar nos dividir e manipular, pressionando individualmente nossas lideranças, caciques ou vereadores. Lembramos que quem responde oficialmente pelo nosso povo são as coordenações das associações Munduruku, chamadas Pusuru e Pahyhy, as entidades representativas de todas as comunidades Munduruku. Somos um só povo, todas as nossas decisões são sempre coletivas e nós as expressamos sempre através das associações.
 
Por fim, reafirmamos que nós povo Munduruku não queremos guerra, queremos paz. E por isso queremos que todas as tropas militares saiam da região. A partir de agora, exigimos que todos encontros e reuniões com governo sejam sempre acompanhados pela procuradoria do Ministério Público Federal do Pará. Queremos que nossa posição sobre a barragem seja respeitada, e que o governo regulamente a consulta prévia aos povos indígenas como manda aConvenção 169 da OIT, tudo isso antes de qualquer decisão, estudo ou construção de barragem.
Também exigimos que nossos direitos constitucionais sejam garantidos, sem que sejam usados como moeda de troca. E reafirmamos: somos contra as barragens e queremos todos os nossos rios livres. E nós vamos lutar por eles.
 
Aldeia Sai Cinza, 25 de abril de 2013. 
Assinam este documento caciques, lideranças, guerreiros e povo Munduruku
É neste contexto que vivem os povos da Amazônia atualmente, a violência aos direitos humanos é promovida pelo próprio governo federal. Se de um lado, a presidente da república se orgulha e propaga conquistas pequenas, como anunciar ter elevado o nível de vida de milhões de brasileiros que saíram da extrema miséria para a miséria e desta a uma pseudoclasse média de 600 euros de renda para famílias de seis pessoas, por outro lado ignora e marginaliza milhões de brasileiros/as que vivem na Amazônia e ameaçados pelas hidroelétricas ditas geradoras de energia limpa. Limpa na ponta, mas suja e perversa na geração. O falso conceito de desenvolvimento assumido e defendido pelo Governo brasileiro traz junto o desrespeito aos direitos humanos de seu povo, desrespeito a biodiversidade, a natureza. A submissão dos governos aos caprichos do capital internacional não tem condição de levar em conta o ser humano.  
 
Referências:
SILVA, Sousa José – Despues del desarollo, 2012, Quito Equador.
DUTRA, Manuel – “Desenvolvimento sustentável, um conceito sem teoria?” do livro Contra discurso de desenvolvimento sustentável de Marcionília Fernandes e Lemuel Guerra (coordenadores) – Unamaz, 2003;
Carta dos Munduruku ao povo e ao governo brasileiro – Assembleia Munduruku em aldeia Sai Cinza, 25 de abril 2013.