quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Amigos da Terra Brasil divulga nota em resposta a associação de alumínio

O Núcleo Amigos da Terra Brasil e a Cooperativa Catarse - Coletivo de Comunicação divulgam nota em resposta à nota publicada pela Associação Brasileira de Alumínio. "Diferentemente do que a ABAL afirma, as empresas que aparecem no vídeo foram contatadas e visitadas por nossa equipe e, como apontamos ao final do vídeo, nenhuma delas apresentou o mínimo interesse em esclarecer os fatos que havíamos registrados", diz a nota
Em resposta à nota divulgada pela Associação Brasileira de Alumínio (ABAL), sobre a reportagem “Indústria do alumínio: A floresta virada em pó“, realizada pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil em parceria com a Cooperativa Catarse, segue o esclarecimento:

"O Núcleo Amigos da Terra Brasil e a Cooperativa Catarse – Coletivo de Comunicação, respectivamente, realizador e produtora da reportagem Indústria do Alumínio: A floresta virada em pó vem por meio desta nota manifestar a satisfação com a repercussão e o grande número de acessos à reportagem e contestar a tentativa de desqualificação que a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) apresentou aos leitores de Carta Maior, ao indicar como exageradas, infundadas e despropositadas as denúncias levantadas por nossa pesquisa de campo sobre a mineração de bauxita e a indústria do alumínio na Região Norte do País.

Apresentamos situações graves, fartamente documentadas e de caráter público – todas, inclusive, com repercussões judiciais e administrativas nas instâncias cabíveis, ou seja, com base na veracidade dos fatos -, e que, para nosso espanto, imaginávamos serem do conhecimento da ABAL.

Também nos impressionou a posição da Associação, porque consideramos nosso trabalho sem nenhum exagero, pelo contrário, temos a autocrítica de reconhecer que se trata de uma investigação com muitas limitações orçamentárias, de total boicote por parte das empresas e, por isso mesmo, que não conseguiu dar conta de todos os problemas que a cadeia produtiva do alumínio vem causando às comunidades tradicionais e aos trabalhadores das indústrias.

Nosso interesse seria ir muito mais a fundo nessa situação, mas procuramos, como fica claro para quem leu e assistiu à reportagem, que nosso trabalho pudesse acompanhar, ao menos, uma etapa do processo e, também, dar voz aos afetados, já que a grande imprensa silencia sobre todas as mazelas sociais e ambientais decorrentes da atuação dessas empresas na Amazônia, pois são elas mesmas grandes anunciantes em negócios de comunicação.

Porém, a resposta da Associação não nos parece de todo mal e serve como uma oportunidade para ampliarmos este debate e reiterarmos aos leitores de Carta Maior, e ao púbico em geral, a importância das situações que documentamos.

Outro esclarecimento que não podemos deixar de fazer: diferentemente do que a ABAL afirma em sua nota, as empresas que aparecem no vídeo foram contatadas e visitadas por nossa equipe e, como apontamos ao final do vídeo, nenhuma delas apresentou o mínimo interesse em esclarecer os fatos que havíamos registrados.

Fomos recebidos na sede da ALCOA, em Belém, em março deste ano, pelo Gerente de Sustentabilidade da empresa Fábio Abdala, que havia previamente aceitado gravar entrevista. Mas quando explicamos o trabalho que estava em andamento, o Gerente de Sustentabilidade desistiu de gravar entrevista e disse que não poderia responder às questões que fazíamos, pois não teria condições para tal, claramente constrangido, apenas nos levando até à maquete da mina em exposição no casarão centenário que abriga a sede da ALCOA, mostrando-nos todas as etapas que se realizam no município de Juruti.
Além disso, Abdala não nos permitiu uma visita às instalações desta mina, nos informando que, como o projeto de instalação ainda não estava plenamente em execução, não seria possível a empresa liberar o local para a filmagem pretendida pela nossa equipe de reportagem – mesmo que neste momento a mina já estivesse em plena operação e que eles próprios já tenham permitido a entrada de outras equipes de filmagem no local.

Em Barcarena, fizemos uma visita, na mesma época, à planta industrial da ALBRAS. Nos obrigaram a preencher um cadastro de visita e a pesquisadora do Amigos da Terra Brasil-Brasil foi solicitada a deixar suas digitais no banco de dados da empresa.
Já dentro da fábrica, fomos recebidos com muita alegria e simpatia por seus funcionários de relações públicas, assistimos a dois vídeos institucionais da empresa antes de conversarmos com Elena Brito, Gerente da Área de Relações Externas e Comunicação, que não aceitou a gravação de entrevistas (nem com a direção da empresa e, muito menos, com seus funcionários), não quis responder a nenhuma de nossas perguntas e somente nos liberou para fazermos uma visita guiada pelas instalações (sem autorização para filmar, percorrendo o circuito de dentro de um carro e, ao solicitarmos, então, o vídeo institucional para que pudéssemos, ao menos, utilizarmos as imagens em nosso trabalho, recebemos um monossilábico não).

Esperamos que a ABAL possa verificar essas informações com as respectivas empresas e informar melhor os leitores quando vem a público expor suas considerações sobre trabalhos jornalísticos e pesquisas sérias, comprometidos com o bem público, a valorização dos direitos humanos e a defesa ecológica no uso dos recursos naturais deste País.

Sobre a relação das empresas com as comunidades locais e a “realidade promissora” propagada pela ABAL, de que tanto se vangloria em dados estatísticos, cifras milionárias e índices generalistas, gostaríamos de disponibilizar, a quem interessar, todo o material audiovisual que registramos para a realização deste trabalho, que não busca se ater a planilhas ou pesquisas, mas chegar até onde estão ocorrendo os problemas, olhar nos olhos de quem passa pelas situações de dificuldades e procurar entender o modo de vida destas pessoas e como ele se perdeu para os propalados “progresso”e “desenvolvimento”.
São mais de 15 horas de entrevistas e imagens de campo, que extrapolam em muito as informações que acabaram entrando no vídeo final de 35 minutos.

Esse material foi solicitado pelo projeto Reduse, um projeto realizado em parceria entre as organizações Global 2000, Sustainable Europe Research Institute, Friends of the Earth Europe e grupos nacionais da federação Amigos da Terra Internacional do Brasil, Camarões, Chile, Togo, Inglaterra, Gales e Irlanda do Norte, Republica Checa, França, Itália e Hungria, com o objetivo de conscientizar a população planetária sobre a quantidade de recursos naturais consumidos na Europa, as conseqüências negativas do super consumo para as sociedades, e os prejuízos para o ambiente no Sul Global (www.reduse.org)".

(Núcleo Amigos da Terra Brasil e Cooperativa Catarse - Coletivo de Comunicação / Carta Maior, 26/12/2011)

Associação Brasileira do Alumínio contesta vídeo da Amigos da Terra Brasil

A assessoria de comunicação da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) divulgou nota rebatendo as acusações feitas a empresas do setor instaladas na região Norte do país, divulgadas em uma vídeo-reportagem produzida pela organização Amigos da Terra Brasil (Indústria do alumínio: A floresta virada em pó) e publicada na Carta Maior. A entidade considera "exageradas, senão infundadas" as acusações relativas a danos ambientais e violações de direitos humanos.

Além disso, defende que "as empresas instaladas no País seguem padrões internacionais de governança, eficiência, transparência, gestão de riscos e responsabilidade social e ambiental, com resultados melhores que a média mundial".

Segue a íntegra da manifestação da ABAL:

Em relação à matéria publicada por esta agência no último dia 7 de dezembro intitulada “Indústria do alumínio: a floresta virada em pó”, produzido a partir de vídeo-reportagem homônimo, a Associação Brasileira do Alumínio esclarece que são exageradas, senão infundadas as acusações feitas às empresas da cadeia produtiva do alumínio instaladas na Região Norte do País.

O texto é despropositado nas suas acusações de violação de direitos humanos, ameaças e desinformações às comunidades locais e aos trabalhadores. Na tentativa de dar algum fundamento às denúncias, o vídeo tendencioso e unilateral dá voz somente a uma pequena minoria que, por motivos próprios, ainda é contrária ao desenvolvimento responsável e ao acesso às melhores condições de vida da população daquelas áreas. Diferentemente do que afirma o vídeo, nenhuma das empresas foi consultada para sua produção.

A realidade é que a indústria do alumínio é globalizada e as empresas instaladas no País seguem padrões internacionais de governança, eficiência, transparência, gestão de riscos e responsabilidade social e ambiental, com resultados melhores que a média mundial. Participam do desenvolvimento local com a geração de emprego e renda, investimentos em saúde, educação e infraestrutura, recolhimento de impostos e oportunidades de negócios para micro e pequenos empreendedores. Nenhuma empresa do setor está localizada em áreas indígenas.

Afirmar que as comunidades locais desconhecem os impactos positivos e negativos de um novo empreendimento na região não é verdade. Encontros com lideranças e audiências públicas são realizados ainda antes da obtenção das licenças de instalação dos projetos e se mantêm constantes durante a operação.

O exemplo mais recente trata da implantação da mina de bauxita de Juruti (PA) pela Alcoa, que realizou várias reuniões preliminares com líderes comunitários, instituições públicas e privadas e outras partes interessadas. As reuniões foram sucedidas por três audiências públicas, a primeira delas com a presença de mais de seis mil pessoas, e a partir das quais foram construídos os Planos de Controle Ambiental, uma Agenda Positiva e o Modelo Juruti Sustentável.

Por meio dos Planos de Controle Ambiental a Alcoa executa programas nos âmbitos socioeconômico, biótico, físico e gerencial, destinando recursos da ordem de R$ 40 milhões em compensações ambientais.
A Agenda Positiva é um conjunto de ações para desenvolvimento do município, com foco em infraestrutura e investimentos de R$ 69 milhões, que contempla as áreas de Saúde, Segurança e Justiça, Educação e Cultura, lnfraestrutura Urbana e Rural. Já o Modelo Juruti Sustentável é constituído por um tripé: o Conselho Juruti Sustentável, composto por 15 membros de diferentes grupos sociais da comunidade e que definem a estratégia de desenvolvimento do município, a partir de Indicadores de Desenvolvimento que acompanham a evolução da cidade e norteiam discussões e decisões pelo desenvolvimento local, apoiados pelo Fundo Juruti Sustentável, instrumento financeiro incentivado pela Alcoa para custear projetos de desenvolvimento local.

As empresas de alumínio contribuem para melhorar os índices de desenvolvimento humano das regiões onde se instalam, geralmente alçando a qualidade de vida dos moradores dessas localidades para acima da média nacional. Pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan)– que divulga anualmente um Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) considerando fatores como geração de emprego e renda e qualidade de serviços de saúde e educação de todos os municípios brasileiros – mostrou, por exemplo, que o IDM de Juruti subiu de 0,38 (numa escala até 1,0) em 2000, para 0,62 em 2009, após a instalação da mina.
No quesito emprego e renda a pontuação saiu de 0,29 (2000) para 0,79 (2009), colocando Juruti entre os 12 municípios mais desenvolvidos do Estado do Pará. Pesquisa realizada pelo IBOPE em 2010 mostrou que 91% dos cidadãos jurutienses aprovam a atividade de mineração de bauxita no local.

Mais que vetores para geração de emprego e renda, as indústrias de alumínio desenvolvem e valorizam a mão de obra local. Na Albras – planta de alumínio primário instalada há 26 anos em Barcarena (PA) – atualmente 96% dos empregados são do estado. Na Alcoa, dos 2.156 funcionários diretos e indiretos, 83% deles são paraenses. Para manter o alto índice de mão de obra local, as empresas investem em cursos de capacitação e qualificação e em parcerias com o SENAI.
Como prova de reconhecimento do trabalhador a Albras, por exemplo, há 12 anos consecutivos figura entre as 150 melhores empresas para trabalhar, segundo pesquisa das revistas Você/SA e Exame; e a Alcoa figura entre as 100 melhores empresas para se trabalhar, segundo estudo do Great Place to Work Institute que tem seus resultados publicados nas revistas Época e jornal O Estado de S. Paulo.

Essa é a realidade promissora dos municípios onde há a presença da indústria do alumínio e que em nada se assemelha à edição sombria da reportagem. Passado a limpo, o que resta desse texto e vídeo-reportagem senão a postura irredutível de uma minoria que desconsidera a importância estratégica das indústrias de base, da mineração à produção primária.
Pois são elas que transformam as riquezas naturais em valor, revertendo-as em benefícios sociais, em acesso à saúde e à educação, enfim são responsáveis por inserir essas comunidades no caminho do progresso.

(Carta Maior, 16/12/2011)

INDÚSTRIA DO ALUMÍNIO NO PARÁ E NO MARANHÃO REDUZ FLORESTA AMAZÔNICA A PÓ

Reportagem produzida pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil mostra casos de destruição social e ambiental que empresas transacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e EUA. O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de alumina
Violação aos direitos humanos e degradação da natureza andam juntos quando o tema é territórios ocupados pelas corporações de mineração e produção de alumínio. Tão útil e adaptado aos modos de vida moderno, por ser leve, macio e resistente, esse metal esconde um processo industrial penoso e degradante.
A reportagem cinematográfica publicada revela casos de destruição social e ambiental que empresas transacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil.

Ao percorrer todas as etapas do processo industrial (mineração da bauxita, transporte por mineroduto, refino da alumina e a redução desta para obtenção do alumínio), a equipe de repórteres flagra diversas ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, e dá voz aos afetados.

São populações rurais de baixa renda e sem assistência dos poderes públicos - com exceção do Ministério Público Federal, que ainda exige o cumprimento das leis e busca assegurar as reparações aos povos afetados.

A maioria das comunidades, até que a destruição comece, desconhece as estratégicas de inserção e apropriação de territórios exercidos pelas corporações mineiras, assim como seus direitos e a legislação que rege as relações comerciais do setor no Brasil. Só depois dos danos causados é que passam a se organizar e lutar por melhores condições de vida.

O mesmo acontece com os trabalhadores, que aliciados por oportunidades de trabalho não imaginam que estão sendo pagos para adoecerem e terem reduzido o tempo de vida laboral.

A pressão do capital
Com o avassalador ingresso das indústrias, a região de mineração passa a depender economicamente do empreendimento. O processo anterior à mina, de expropriação e compra de terras, gera especulação imobiliária inflacionando o valor da terra.

Esse processo incentiva pequenos agricultores a venderem suas terras, seduzidos pelas quantias oferecidas (de grande monta para a realidade deles, mas de baixo impacto para o mercado imobiliário), e engrossar as periferias dessas pequenas cidades, com aumento da violência, prostituição, analfabetismo, entre outros graves problemas sociais.

Quando as empresas se instalam sobre essas áreas fatalmente cessa a atividade de extração sustentável dos recursos na floresta, porque extrativismo e mineração são atividades excludentes.
A degradação ambiental provocada pela instalação e operação das fábricas também resulta em impactos na economia local: a contaminação de igarapés, lagos e rios por lama vermelha (rejeito tóxico da limpeza da bauxita) provoca mortandade de peixes e destrói a possibilidade de pesca artesanal; com a poluição pelo ar, as árvores frutíferas próximo das fábricas não dão frutos, os açaizais (principal fonte de renda das famílias camponesas da região) sofrem queda de produtividade, assim como outras culturas tradicionais das regiões.

Hidrelétricas e finaciamento público

A cadeia produtiva do alumínio é eletrointensiva, ou seja, necessita de grande quantidade de energia elétrica e de água para se viabilizar. Para a expansão da produção do alumínio, o governo federal vem promovendo a construção de novas barragens na Amazônia, entre elas Belo Monte, que cederá parte de sua energia para as indústrias eletrointensivas. Além disso, bancos públicos, como o BNDES, assumiram papel fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva.

O financiamento público, aliado ao reaquecimento do mercado internacional, impulsionou a expansão das fábricas da Alunorte/Albrás, Alumar e CBA, incluindo o financiamento de novos projetos de refinaria em Barcarena, maior pólo do setor, a 50 km de Belém. E as fábricas não se expandem sozinhas, junto com elas vem a abertura de novas lavras, a construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, duplicação de ferrovias, minerodutos e etc. Ou seja, a degradação ambiental que foi registrada nesta reportagem cinematográfica.

A força da grana
A exportação do setor metalúrgico, pelos dados mais atualizados, de 2009, correspondeu a 2,1% da balança comercial. Por sua vez, as exportações influenciam em 2% do PIB nacional. O alumínio é uma das principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e Estados Unidos.
O Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor mundial de alumina. Contando toda a cadeia, foram produzidas 26074,4 mil toneladas de bauxita, 8625,1 mil toneladas de alumina e 1690 mil toneladas de alumínio.

Em termos de negócio, a produção brasileira perde muito em valor agregado, pois só produz produtos primários, concentrando somente os processos mais agressivos ao meio ambiente. Exportamos, no máximo, lingotes de alumínio. Quando chegam nos outros países, para as etapas seguintes de transformação do metal, o alumínio para a valer quatro vezes mais.

(*) O Núcleo Amigos da Terra Brasil, em contato com organizações e movimentos locais, foi registrar esses conflitos com ribeirinhos para avaliar os impactos sociais e ambientais que a indústria do alumínio provoca desde à década de 80 no Brasil. Para isso, organizou visitas técnicas em pelo menos um local de cada etapa da cadeia produtiva. Essa reportagem, acompanha a pesquisa de campo e revela os casos de ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, dando voz aos afetados.

(Por Bruna Engel, Núcleo Amigos da Terra Brasil / Carta Maior, 07/12/2011)