terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O FIM DA AMAZÔNIA


23/12/2015 18:49
 LÚCIO FLÁVIO PINTO
 
Há exatamente 30 anos, em 1985, o então presidente José Sarney fez a sua primeira visita à Amazônia. Foi ver o primeiro projeto de mineração a entrar em operação no Pará, a mina de bauxita da Mineração Rio do Norte, uma das maiores do mundo. Para pousar na pista do núcleo residencial de Porto Trombetas, o avião presidencial precisou passar por cima do lago Batata.
A visão foi constrangedora. Quase 20% da superfície líquida se tornara sólida, aterrada pelos rejeitos da lavagem do minério, que eram depositados no lago porque a mineradora não construíra uma bacia própria de deposição. O Batata, um dos maiores lagos que margeiam o grande rio, afluente da margem esquerda do Amazonas, estava sendo destruído sem clemência. O volume despejado até aquele momento correspondia à lavra de apenas uma década e meia.
A imagem chocou quem assistiu à exibição da reportagem sobre a visita, feita pela TV Globo, ecoando pelo mundo. A paisagem transformada do lago se parecia mais com Marte do que com a Terra, por sua coloração vermelha e o desaparecimento de toda forma de vida no local, dos peixes às plantas. Se dependesse da mineradora, que era controlada pela ainda estatal Companhia Vale do Rio Doce, associada a várias das multinacionais do ciclo do alumínio, o Batata estava condenado à morte.
Uma condenação absurda. Não só pelo aspecto ecológico: também pelo econômico. A MRN construiu uma ferrovia para transportar o minério por 30 quilômetros, da jazida até o porto privativo. Mas um terço da carga era rejeito, que só seria descartado no ponto de lavagem, à beira do rio. Além da lama vermelha, o processo produtivo gerava um pó da mesma cor, expelido pela chaminé, sem filtro, que cobria tudo.
A bauxita era lavada e depois seca porque parte da produção ia (e ainda vai) para o Canadá, local de origem da Alcan, que por alguns anos foi a única proprietária do projeto, até a CVRD se incorporar ao empreendimento para que ele pudesse ser retomado. O minério precisava ser seco para não congelar no porão dos navios que chegavam ao Canadá no inverno.
O forno de secagem do minério era alimentado de madeira, extraída arbitrariamente de uma área que seria inundada pela barragem da hidrelétrica do Trombetas. A usina não saiu até hoje, mas o ex-quase-futuro reservatório foi limpo e as árvores se transformaram em lenha até o alerta de que se tratava de um desmatamento absurdo.
O alerta veio através da repercussão internacional das imagens do lago, que desnudavam a aparência de normalidade da mineração. Desde o início a extração da bauxita devia ter um depósito de rejeito e o ponto de lavagem de minério no alto da serra, sem que o trem precisasse transportar (com ônus ambiental e econômico) material estéril num percurso de 30 quilômetros, para descartá-lo nas belas drenagens naturais da região de Oriximiná.
A partir da reação, a Rio do Norte fez uma inovação: passou a depositar o rejeito em buracos que abriu ao lado da mina e a recobri-los com terra vegetal para replantar as espécies nativas da floresta que derrubou, recompondo assim a paisagem. Foi a primeira aplicação à lavra de bauxita de uma técnica usada para uma atividade em menor escala, a lavra de fosfato nos Estados Unidos.
O erro inicial estava corrigido, mas não teria havido as mudanças sem pressão externa. Quanto custou a falta de iniciativa da própria mineradora? Nenhum cálculo foi feito na época e até agora. Mas uma ideia atualizada pode ser estabelecida a partir da constatação de que a cada ano a MRN descarta mais de cinco milhões de toneladas de material estéril.
Significa que, em 10 anos, terá produzido tanta lama de rejeito quanto a Samarco acumulou nas duas barragens que se romperam e provocaram a maior tragédia ambiental da mineração no Brasil. E a Rio do Norte já tem 30 anos de operação comercial, a mais antiga mineradora no novo ciclo da atividade, iniciado 60 anos atrás com a lavra de manganês no Amapá por outra multinacional, a siderúrgica americana Bethlehem Steel, em sociedade com o grupo empresarial de Augusto Trajano Antunes.
Essa muito mal conhecida história ensina que é inconfiável o compromisso das empresas de mineração de prevenir – ao máximo possível pela tecnologia disponível – os acidentes inerentes à sua atividade e minorar ao máximo os efeitos deles quando ocorrem por um acidente completamente fora do controle. A tragédia de Mariana não deixa dúvida, qualquer que tenha sido a causa do rompimento dos diques de contenção do rejeito da pelotização (agregação em pelotas) do minério de ferro, sobre um ponto: a negligência da Samarco, na qual a antiga CVRD (privatizada há quase 20 anos) tem metade das ações, em parceria com a anglo-australiana BHP-Billiton.
A empresa não respeitou o limite de segurança recomendado para reter os 50 milhões de toneladas de rejeitos que vazaram nem dispunha de uma alternativa segura para um acidente. O plano que elaborou não estava à altura do risco que um rompimento causaria à área situada abaixo das duas barragens que entraram em colapso. Daí a gravidade e extensão do dano que causou e dos prejuízos, que ainda nem foram exatamente calculados. O que já foi apurado, no entanto, é o bastante para que a sociedade brasileira se comprometa em dar um basta ao livre arbítrio das empresas de mineração (assim como das demais que possuem barragens, como as de energia) e obrigue o governo a sair da sua inércia, omissão ou incompetência, mais graves até do que a irresponsabilidade desses setores da iniciativa privada. Com um agravante: a Samarco é considerada como uma das melhores do setor. Como será a pior?
Uma resposta segura exige uma revisão rigorosa da situação das frentes econômicas que avançam sobre novas fronteiras na Amazônia, em particular no Pará. Há boas notícias no front, mas elas precisam ser relativizadas em função da dinâmica da ocupação da região, que ainda é marcantemente predatória e irracional. O Imazon, uma das mais ativas instituições de pesquisas amazônicas, apresentou uma dessas notícias, imediatamente comemorada, como aconteceu por ocasião da recente visita a Belém do príncipe herdeiro do trono japonês.
O Instituto do Homem e do Meio Ambiente constatou que 230 quilômetros quadrados (ou 23 mil hectares) foram desmatados na Amazônia Legal no mês passado. Houve redução de 5% em relação a outubro de 2014, quando o desmatamento somou 244 quilômetros quadrados. Já a área degradada de florestas foi muito maior, alcançando 1.009 km2, com incremento de 115% em relação a outubro de 2015, quando a degradação somou 468 km2.
A notícia é boa, mas não tão boa quanto parece. Primeiro, porque a derrubada de mata nativa prossegue, desfazendo a esperança quanto à viabilidade do tão apregoado desmatamento zero. Invariavelmente, a floresta virgem é substituída por cultivos de valor inferior e sem o mesmo desempenho ecológico.
Em segundo lugar, porque o corte raso, geralmente feito para a implantação de fazendas de gado ou plantio de culturas comerciais, como a soja, foi substituído pelo corte seletivo de madeira, que, mantendo a copa das árvores, não é registrado pelos satélites e camufla as estatísticas de desmatamento e degradação.
Mesmo quando ambas as agressões se reduzem ou desaparecem, não há muita razão para a comemoração. O Pará, onde o desmatamento diminuiu, a liberação de gases de efeito estufa é maior porque crescem as queimadas em áreas já alteradas. Por isso o Estado é o líder da região. Significa que a atividade humana se alterou numa fronteira já mais densamente ocupada. No entanto, segue a mesma diretriz em uma nova fronteira, como a do Amazonas, que abrigou 16% do desmatamento constatado em outubro, um índice elevado se comparado aos 29% de Mato Grosso, 26% de Rondônia e 24% do Pará.
O Estado da propaganda ecológica desencadeada pelo ex-governador e atual ministro (das minas e energia) Eduardo Braga desmorona, o que se evidencia ainda mais pelo índice de desmatamento, de 2%, do vizinho Roraima. O pioneiro que devastou os vales do Araguaia, Tocantins e Xingu chega com os mesmos procedimentos ao vale do rio Madeira. Por isso, a Amazônia continua a sofrer – e a desaparecer.
O resto é ingenuidade. Ou, então, propaganda.

A fotografia do desmatamento em Beruri (AM) e que ilustra esse artigo é de Albert César Araújo.
 
Lúcio Flávio Pinto é jornalista, sociólogo, formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém/PA desde 1987. Lançou recentemente o site Amazônia Hoje e blog Cabanagem. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, “Guerra Amazônica”, “Jornalismo na linha de tiro” e “Contra o Poder”. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras. 

ENTREGA DE FAIXA AO CAMPEÃO DOS CAMPEÕES

O REAL da comunidade Muirapinima foi o grande campeão do Campeonato Copa dos Campeões/15, promovido pela Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho - Arcojuve, através da direção de Esporte Cultura e Lazer. A equipe venceu o Bota Fogo da comunidade Prudente nos pênaltis de 5 a 4 no campo da comunidade Muirapinima.

No dia 09 de janeiro acontecerá o torneio de entrega de faixa ao vencedor, a equipe adversaria será formada por uma seleção de craques que se destacaram durante a copa dos campeões oriundos de equipes das comunidades.

  ASCOM ACORJUVE

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

COSTURANDO RELAÇÕES

 
 

O Projeto Costurando Relações nos últimos anos tem capacitado mulheres do PAE Juruti Velho com um olhar atento a diversidade cultural retratado pela arte e criatividade materializada nos produtos criados pelas participantes dos cursos oferecidos pela ACORJUVE.
Levando em conta que o artesanato é um setor da economia cujo crescimento possui alto potencial de geração de trabalho e renda, merecendo uma política de desenvolvimento sustentável voltada para o setor, é que a ACORJUVE tem mantido  especial olhar as suas associadas  através do projeto Costurando Relações estimulado o resgate das vocações pela costura, levando à preservação da cultura local e à formação de uma mentalidade empreendedora, por meio da capacitação destas associadas. O padrão de qualidade e a capacidade de produção são alguns dos fatores que determinam a aceitação destes produtos no mercado.
O projeto Costurando relações foi criado em 2012, através da formação e capacitação de militantes da Igreja Católica e membros da ACORJUVE através da Caritas Diocesana de Óbidos, hoje mais de 330 mulheres receberam formação através do projeto e contribuem na geração de renda de suas famílias.
Neste mês de janeiro mais 04 cursos serão oferecidos e a meta é capacitar 40 mulheres através das oficinas de confecções de calcinhas e cuecas, confecções de bolsas ecologicamente corretas, camisas de meias e roupas infantis, o projeto conta com o monitoramento de mulheres associadas a entidade e capacitadas pelo projeto.  
 
 

CONSELHO REUNE PARA ELABORAR RESPOSTA A DOCUMENTO AO MP

Foto de Acorjuve Juruti Velho.Aconteceu hoje sábado, (19) reunião do conselho Fiscal Comunitário, Diretoria e Assessoria da Acorjuve, com objetivo de socializar as negociações entre ALCOA, ACORJUVE, INCRA, MPE na reunião bilateral realizada em Belém, no mês de setembro, ocasião em que foi reformulada as propostas referentes as perdas e danos no período de 2006 a 2010. Na reunião foi analisado, discutido e apresentado encaminhamentos para a documentação que será encaminhada pela Associação ao MP e Incra. Uma das propostas encaminhada foi, que a direção agendasse reunião na Vila Muirapinima com a presença do MP para esclarecer junto ao povo a proposta deste referente a criação do Fundo de gerenciamento dos recursos oriundos da perdas e danos.

DOM ERWIN, 50 ANOS NO XINGU: VITÓRIAS E TRISTEZAS


Chegado ao Brasil recém-ordenado, aos 26 anos, em 1980, padre Erwin Erwin foi trabalhar no Pará: vigário cooperador de Altamira; pároco de São Francisco Xavier de Souzel; reitor da Escola Apostólica São Gaspar, Altamira; professor de Filosofia Educacional e Psicologia Educacional no Instituto Maria de Mattias de Altamira; ecônomo da prelazia do Xingu; e encarregado pastoral de Vila Vitória.
Dom Erwin recebeu a cidadania brasileira em 1981 e há cinquenta anos vive ao lado dos índios, dividindo com eles o empenho de salvar a floresta da insaciável fome de recursos das grandes empresas, usinas, madeireiras e monoculturas.

Ser emérito
Em entrevista concedida em 2012, dom Erwin declarou que “tornar-se bispo emérito não significa entregar os pontos“ e assegurou que seu empenho em favor da dignidade e dos direitos dos povos indígenas, dos ribeirinhos, das mulheres, das crianças, dos jovens, dos expulsos de casa e terra, dos agredidos e machucados, enfim, de todos os “excluídos do banquete da vida“ e a defesa do meio ambiente, o “lar“ que Deus criou para todos nós, vão continuar enquanto Deus lhe der o fôlego.


No dia em que sua renúncia foi aceita, quarta-feira, 23 de dezembro, dom Erwin conversou com a RV:
“Faz tempo que já pedi a renúncia e escrevi a carta ao nosso Papa e durou um bocado de tempo até que agora, acharam o sucessor. Tenho fé em Deus que tudo continue nas linhas que nós há tantos anos estamos realizando aqui e fé em Deus que o novo bispo tenha a força e a coragem, com a graça de Deus e a iluminação do Espírito Santo para que possa tomar conta realmente desta imensa prelazia que é maior que a Itália e a maior circunscrição eclesiástica de todo o Brasil. É uma diocese bastante complexa e em parte, bastante conflitiva; estamos enfrentando não sei quantos desafios aqui... então, espero que o novo bispo tenha esta força e possa, com a graça de Deus, servir ao povo de Deus do Xingu”.

Os momentos mais felizes e menos felizes desta trajetória

“Os momentos mais felizes continuam, quer dizer, estou no meio deste povo, nas comunidades, aonde leigos e leigas assumiram a sua responsabilidade. Temos apenas 31 padres para 800 comunidades e uma parte deles tem mais de 70 anos. Se a leiga e o leigo não assumem, então não tem Igreja. Isso para mim é uma alegria ver esta responsabilidade baseada no batismo e no sacramento da crisma. Isto é uma vitória para mim. Outra vitória é que, como Presidente do Cimi, conseguimos em 1987 inscrever os direitos dos povos indígenas na Constituição Federal. Foi uma luta imensa, mas Deus ajudou e agora, continuamos pedindo a Deus que não seja alterado o enunciado na própria Constituição. Isto seria um desastre para os povos indígenas. Tive outras, tantas alegrias”.

“Os momentos mais tristes, você pode imaginar, são os momentos em que estamos diante do caixão de uma pessoa que foi assassinada... tivemos vários casos em nossa prelazia nos últimos anos... Irmã Dorothy, o Dema, Irmão Beto, e o padre Tori, que faleceu ao meu lado naquele desastre... estes são momentos que não podemos esquecer, fazem parte da vida”.

O novo bispo deverá ter coragem. “É... o papa fala sempre que coragem.. Seja corajoso e também muito misericordioso!”.
Papa nomeia frei João Muniz Alves sucessor de dom ErwinO papa acolheu na manhã de quarta-feira (23/12), o pedido de renúncia de dom Erwin Kräutler, que deixa, por razão de idade, a condução da prelazia do Xingu após 35 anos.

Em seu lugar, foi nomeado o franciscano João Muniz Alves, que até o momento era o Guardião da Comunidade Franciscana de São Luís do Maranhão. Monsenhor João Muniz Alves nasceu em 8 de janeiro de 1961 em Carema, município de Santa Rita, na Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Emitiu seus primeiros votos na Ordem dos Frades Menores em 1986 e os votos solenes em 1991. Foi ordenado em 1993. Depois de estudar filosofia e teologia em Teresina, no Piauí, obteve o doutorado em ambas em Roma.

Já como sacerdote, foi vigário paroquial, mestre de postulantes, pároco e definidor da vice-Província franciscana da diocese de Bacabal (MA). Em 2014 foi visitador geral da Província franciscana de Moçambique. Atualmente, exerce seu ministério como guardião da comunidade de São Luís do Maranhão, Vigário paroquial, formador e professor de teologia moral.

Até a posse de Frei João, dom Erwin Krautler permanece na condução da prelazia como administrador Apostólico.
Fonte: Rádio Vaticano

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

QUEIMADAS PREJUDICAM A SAÚDE HUMANA E O MEIO AMBIENTE



Aconteceu segunda feira, (14) a segunda ação ao combate aos focos de incêndios na floresta da Região do PAE Juruti Velho, desta vez mais de 150 pessoas estiveram agindo para apagar os focos de incêndios. Moradores das comunidades Pompom, Ingracia, Capitão, Bom Jesus e Vila Muirapinima se uniram em defesa a o meio ambiente e passaram em media 10 horas na mata para conter a queimada que vem causando prejuízos a floresta e aos comunitários que tem visto seus centros de trabalhos destruídos pelo fogo.
Fazer uma queimada sem controle pode causar sérios prejuízos à fauna e flora, reduzindo a cobertura vegetal, diminuindo a fertilidade do solo e comprometendo a qualidade do ar e, consequentemente, a saúde humana, provocando vários tipos de doenças, principalmente respiratórias, quem mais tem sofrido com essas doenças são as crianças e os idosos que tem procurado a Unidade de Saúde e não há equipamentos adequados pra atender este e tipo de emergência.