terça-feira, 8 de maio de 2012

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS ACUSAM VALE POR POLUIÇÃO E ACIDENTES

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro - 18/04/2012

 
Organizações e movimentos sociais acusam a mineradora Vale de ser responsável pela morte de 15 trabalhadores em acidentes, entre 2010 e 2012, além de outros 199 acidentes graves em ferrovias.

A Vale também é foco de denúncias de emissão excessiva de gás carbônico, além de poluentes como óxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, prejudiciais ao ambiente.

Segundo a denúncia, em 2010, a emissão de poluentes pela empresa subiu de 25% a 30%, variando conforme os elementos químicos considerados.

Essas acusações estão contidas no Relatório de Insustentabilidade da Vale 2012, divulgado nesta quarta-feira (18), no Rio de Janeiro, pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale que reúne 30 organizações e movimentos sociais não apenas do Brasil, mas de países onde a mineradora atua, como Argentina, Chile, Canadá e Moçambique.

A Vale disse que trabalha para reduzir os acidentes e a poluição. A empresa disse que, entre 2010 e 2012, pretende investir US$ 335 milhões na redução des resíduos perigosos e na eficiência na utilização de recursos naturais, como água e energia.

A Vale foi escolhida, em 2012, como a "pior corporação do mundo", segundo o Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel da vergonha corporativa mundial”.

O Public Eye Awards é organizado por entidades sociais e tem voto popular pela internet. São avaliadas questões como problemas ambientais, sociais e trabalhistas. É divulgado simultaneamente e como contraponto ao Fórum Econômico Mundia (que reúne corporações e líderes mundial), na cidade suíça de Davos. A Vale ficou à frente da japonesa Tepco, responsável pelos acidente nuclear de Fukushima, em 2011.

Relatório de Insustentabilidade

O documento é um "relatório-sombra" feito nos mesmos moldes do Relatório de Sustentabilidade da mineradora, mas que contrapõe a versão oficial.

Segundo cálculos realizados pelas organizações sociais, a mineradora brasileira causou danos ambientais numa área total que corresponde a 741,8 quilômetros quadrados (quase o tamanho da cidade de Campinas, interior de São Paulo). Apenas na floresta amazônica, em 2010, foram impactados pela atuação da vale 18,26 quilômetros quadrados (11 vezes o tamanho do parque Ibirapuera, em São Paulo).

O documento apresentou a denúncia de que a Vale, segundo investigações do Ministério Público e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiento e dos Recursos Renováveis), mantém relações comerciais com usinas siderúrgicas produtoras de ferro-gusa que usam carvão vegetal obtido de forma ilegal e estão envolvidas em casos de trabalho escravo e infantil.

Segundo a denúncia, falta sinalização nas estradas de ferro usadas pela Vale. Isso acarretaria atropelamentos. Na Estrada de Ferro Carajás (PA), que corta 94 localidades, em média, uma pessoa morre por mês vítima de atropelamento de trens operados pela Vale, diz o documento.

Danos à saúde e ao ambiente

De acordo com o relatório, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma joint venture da Vale com a Thyssen Krupp no Rio de Janeiro, causa poluição e danos ``a saúde.

A população que vive no entorno da siderúrgica sofre com o aumento de 600% de partículas de ferro no ar, conforme constatou o Ministério Público do Rio de Janeiro, que havia denunciado a empresa e dois de seus diretores por crimes ambientais.

Problemas de saúde relacionados à poluição, como lesões respiratórias e dermatológicas, são frequentes desde 2010, ano em que a companhia foi inaugurada. Outro agravante é o desvio de um rio que tem causando enchentes em um dos conjuntos habitacionais da região.

O documento cita o cálculo da Secretaria Estadual do Ambiente do Rio que aponta que a CSA elevará em 76% as emissões de gás carbônico na cidade do Rio de Janeiro e equivalerá a cerca de 14% do total de emissões de todo o Estado.

Problemas fora do país

No âmbito internacional, as organizações relatam casos de comunidades atingidas pela mineradora, como em Moçambique, onde os megaprojetos de mineração de Moma e Moatize teria resultado na remoção de 760 famílias camponesas das suas comunidades, para a abertura de minas de carvão, entre 2009 e 2010.

Já em Mendoza, na Argentina, a Vale, que opera o projeto de potássio Rio Colorado para a produção de fertilizantes, poria em risco a fauna e a flora ao contaminar as águas da bacia hidrográfica onde vivem cerca de 25 mil habitantes. O Rio Colorado, que corta quatro províncias e é um importante fornecedor de água corre risco de salinizar-se, segundo denuncia o relatório.

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