quarta-feira, 13 de novembro de 2013

PÉ DE PINCHA GARANTE REPOVOAMENTO DE QUELÔNIOS NO LAGO JURUTI VELHO

Há dez anos, a Universidade Federal do Amazonas auxilia comunitários de Juruti Velho na preservação de quelônios, ajudando tirar da extinção diversas espécies.

Durante muitos anos, a captura de quelônios para a alimentação e para a comercialização foi uma atividade constante na vida de moradores de diversas comunidades que formam a região de Juruti Velho, no município de Juruti/PA. Atividade essa que reduziu drasticamente a população de quelônios. Com o passar dos anos, os próprios moradores foram percebendo que a captura dos quelônios estava se tornando uma atividade difícil, que a quantidade de animais estava diminuindo. A fim de reverter essa situação, moradores de Juruti Velho foram em busca de ajuda e encontraram no Projeto Pé-de-Pincha uma alternativa que,  ao longo de dez anos, tem ajudado a garantir o repovoamento de quelônios no lago da região.

O projeto Pé-de-Pincha foi criado no ano de 1999 por comunitários do município de Terra Santa/PA e por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. O nome do projeto refere-se às pegadas do Tracajá (Podocnemis unifilis) que na areia ficam o formato de “pinchas” (tampinha de refrigerantes de garrafas de vidro). O Pé-de-Pincha tem como missão preservar e conservar as populações de quelônios da Amazônia, bem como realizar trabalhos sociais com as comunidades ribeirinhas. Atualmente, o Pé-de-Pincha está presente em 15 municípios.

“Nós temos alcançado resultados maravilhosos. No contexto geral já fizemos a soltura de mais de um milhão de filhotes. É muito bom, é muito satisfatório. Muita gente que chegou criança para participar do projeto hoje em dia já é adolescente, adulto, e tem repassado a mensagem da conservação para as gerações. A gente vê os resultados. O lago tá repovoado. Se você perguntar para as pessoas como era esse local antes e como está depois da chegada do projeto você vai perceber que há muitas diferenças. Em locais onde praticamente não havia mais quelônios, hoje em dia você encontra bastante. E isso é muito engrandecedor”, declarou Cléo Ohana, engenheira florestal, integrante da coordenação do Pé-de-Pincha.

No município de Juruti, o Pé-de-Pincha atua desde o ano de 2003, beneficiando dezesseis comunidades da região de Juruti Velho. Nesses quase dez anos de atividades os comunitários, com o auxílio dos profissionais da UFAM, já depositaram nas águas do Lago Juruti velho mais de 32 mil quelônios. A iniciativa, além de garantir o repovoamento do lago, evita a extinção de diversas espécies de quelônios.

O trabalho dos comunitários começa no mês de setembro, época da desova dos quelônios. Os animais encontram nas praias formadas nas margens do lago Juruti Velho o local ideal para depositar os ovos, que, posteriormente são recolhidos por moradores e colocados em chocadeiras naturais, também nas margens do lago, mas em locais protegidos da ação de predadores, principalmente do homem. O nascimento dos animais acontece dois meses depois. Após o nascimento, os quelônios recebem tratamento adequado até completarem sete/oito meses, para então ser soltos nas águas do lago.

            O dia dedicado à soltura dos quelônios começa com um grande ritual. No mês de setembro, a equipe da VOX GREEN acompanhou o trabalho do Pé-de-Pincha desenvolvido na comunidade Surval, em Juruti Velho. Um ritual, que mobiliza toda a comunidade, antecede a soltura dos animais. Na capela dedicada a Nossa Senhora do Livramento, comunitários realizam a celebração da vida. Na frente do altar, uma bacia cheia dos pequenos animais é colocada a fim de receber a proteção divina.

            Após a celebração, vem a segunda parte da programação, que acontece no barracão comunitário. Na oportunidade, os moradores que participam ativamente do projeto recebem certificados pelos trabalhos prestados à natureza. Aos demais são repassadas orientações que vão auxiliá-los no combate à captura ilegal de quelônios no lago Juruti Velho.

            A terceira e última etapa do ritual acontece às margens do Lago Juruti Velho. É quando os pequenos animais são conduzidos por moradores ao seu novo lar. As crianças são as mais entusiasmadas. Desde pequenas elas participam do Pé-de-Pincha e aprendem o quanto é importante preservar a natureza. Nesta etapa, a comunidade Surval soltou 1.158 quelônios de várias espécies.

            A parceria com a ACORJUVE – Associação das Comunidades da Região de Juruti Velho tem sido primordial para que o Pé-de-Pinha alcance seu principal objetivo. Boa parte da estrutura necessária para o desenvolvimento das atividades do projeto nas comunidades da região é cedida pela ACORJUVE. Na comunidade Surval, o comunitário Reginaldo Souza Guerreiro, é um dos que percorrem a região reunindo com moradores e repassando uma série de orientações a fim de preservar o lago e garantir a permanência dos quelônios. “Através do diálogo a gente vai conquistando muita gente. Mas, infelizmente, muitas pessoas ainda não têm essa consciência de preservar, querendo só destruir”, lamenta o comunitário, que faz parte da diretoria da ACORJUVE.

Um dos problemas que a região enfrenta para a preservação dos quelônios é a falta de fiscalização. “Precisamos de agentes ambientais voluntários para fazer a fiscalização e com isso não deixar que o trabalho seja prejudicado”, declarou o engenheiro de pesca Alex Leão, integrante do Pé-de-Pincha.

“O papel da comunidade é inspecionar, fiscalizar, evitar que as pessoas coletem os ovos dos locais protegidos. Muita gente só pensa em pegar os ovos e os quelônios para comer, sem se preocupar com a preservação dos animais. O trabalho não para, é contínuo, muita vigilância”, informou o coordenador do Pé-de-Pincha na comunidade Surval, Davi Assunção Matos.

            Em 2014 haverá nova soltura de quelônios no Lago Juruti Velho. De acordo com Davi Assunção, neste ano já foram recolhidos mais de 50 ovos de quelônios só na comunidade Surval. “No ano que vem a nossa meta é soltar pelo menos três mil quelônios”, informou o coordenador.
 
ANO
QUANTIDADE
2003
1.527
2004
1.755
2005
3.109
2006
4.320
2007
3.697
2008
3.193
2009
1.630
2010
4.410
2011
5.061
2012
3.753

 

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