terça-feira, 14 de junho de 2011

CARTA AOS BISPOS DO BRASIL

A região amazônica, desde os primórdios da colonização, sempre foi olhada com carinho e atenção pela Igreja. Muitos sacerdotes se dedicaram e deram a vida a serviço do povo que habita as partes mais distantes dos rios, matas, igarapés e estradas que cortam esta admirada e rica região.
Ao longo do processo de colonização muitas injustiças foram cometidas contra seus povos nativos. O apresamento, a escravização, o massacre, a desaculturação, a desorganização social foram práticas recorrentes que fizeram muitas vítimas por aqui.
O processo de ocupação colonial da região significou efetivamente uma invasão que expulsou os tradicionais habitantes de suas terras, roubando-lhes as riquezas e transformando-os em mão de obra barata a serviço da empresa colonial. Foi assim que ocorreu no período da exploração das drogas do sertão, no período da economia cacaueira na Amazônia e no período da borracha.
Durante séculos de resistência e vários guerras, dentre as quais se destaca a Cabanagem (séc. XIX), os primeiros habitantes da Amazônia, como alternativa de sobrevivência, tiveram de abandonar as áreas de mais fácil acesso e se refugiarem, formando novos aglomerados populacionais, nas áreas mais distantes do interior da região, especialmente as áreas de cachoeiras, cabeceiras de rios e igarapés, margens de lagos etc. Esta foi a forma que encontraram para manter seus costumes, suas crenças, e suas formas de organização social.
No entanto, com a expansão do capitalismo na região a partir da segunda metade do século passado, especialmente das atividades garimpeiras, madeireiras, sojeiras e mineradoras, as invasões das terras, a expropriação dos recursos naturais e a exploração das populações tradicionais voltaram a ocorrer de forma mais intensa e sistemática.
É em virtude destas atividades econômicas implementadas, financiadas ou promovidas por grandes empresas que os conflitos de terras se multiplicam na região.
Frente a tudo isso o Estado, quase sempre, se coloca a serviço dos grandes empreendedores em detrimento dos interesses dos povos mais antigos da região. A legislação não contempla os direitos dos oprimidos e explorados que, por sua vez, se vêem obrigados a aceitar os projetos que lhes são impostos, literalmente, de cima pra baixo, ou de fora pra dentro.
É o que está acontecendo com as grandes hidrelétricas projetadas para as cabeceiras dos principais rios (Xingu e Tapajós) da região, com a ação das grandes empresas de exploração madeireira que financiam a exploração ilegal de madeiras nos mais diversos pontos da floresta nativa (p. ex. Gleba Nova Olinda, Curumucuri e Mamuru), com a expansão do cultivo da soja e com a chegada das grandes empresas mineradoras na região como é o caso da ALCOA em Juruti Velho, município de Juruti-PA.
Embora tenham resistido, as populações tradicionais de Juruti Velho estão sendo obrigadas a aceitarem a exploração das suas minas de bauxita pela ALCOA em troca de uma participação irrisória (1,5% do lucro líquido da empresa) nos resultados da lavra. Os danos causados e os problemas trazidos superam de longe os benefícios que a empresa diz trazer.
De olho nas riquezas, junto com a ALCOA, vieram também os grileiros com seus pistoleiros que estão a causar o terror e instalar um clima de insegurança na região.
Diante de tudo isso, a força isolada das organizações do povo tem sido insuficiente para fazer valer os seus direitos.
É por este motivo que estamos a PEDIR O APOIO DOS BISPOS DO BRASIL. Pois temos consciência de que a CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB) tem sido uma poderosa ferramenta de Deus a serviço dos pobres e oprimidos do Brasil e da Amazônia. O trabalho missionário da Igreja Católica, a atuação dos religiosos e religiosas envolvidos(as) e comprometidos(as) com as lutas sociais tem sido fundamental para o fortalecimento das organizações do povo e para manter viva a esperança na construção de um mundo melhor.
Não podemos aceitar que os grandes empreendimentos continuem a ser implantados de forma prejudicial aos povos da região.  
Precisamos e contamos com o APOIO DOS BISPOS DO BRASIL para que os interesses das populações tradicionais da Amazônia sejam contemplados e os seus direitos sejam respeitados. Clamamos para que os pastores da Igreja continuem a se fazerem presentes nas longas caminhadas de lutas do povo de Deus.

Atenciosamente,

Professor Portela - Assessor da Acojuve.

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